Notícias Notícias

Voltar

Dia do Estudante: memória e democratização da educação superior

Celebrado em 11 de agosto, o Dia do Estudante é um momento para relembrar a importância da educação e o impacto desta na população, além de ser uma oportunidade para reforçar que as universidades públicas são muito mais do que meras instituições de ensino, sendo também lugares de encontro, diálogo, inclusão e produção de ciência e tecnologia por meio da pesquisa. Todas essas questões nos remetem ao princípio, existente no Artigo 207 da Constituição Federal, da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, mostrando como é imprescindível integrar universidade e sociedade.

O estabelecimento do Dia do Estudante, no Brasil, deu-se em um evento no ano de 1927, por sugestão do advogado Celso Gand Ley, já que as faculdades de Direito que estavam completando 100 anos de fundação (as atuais Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e Faculdade de Direito do Recife) eram representações fortes da história da educação brasileira. Nas décadas seguintes, o aumento do número de estudantes, decorrente, em grande medida, do fortalecimento do processo de industrialização e consequente crescimento das cidades brasileiras, permitiu que eles se organizassem para a defesa dos seus direitos e dos interesses do país, por meio de entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE). 

 

(Foto: Passarinho / ASCOM, 2018)

Recepção dos novos alunos do Centro de Biociências (CB) e do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFPE

 

Fundada em 1937, no dia do décimo aniversário de estabelecimento do Dia do Estudante, a UNE  mantém-se, desde então, em intensa atividade, desempenhando importante papel político, como quando cobrou um posicionamento do então presidente do país, Getúlio Vargas, na luta contra o nazifascismo, no período da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Esta entidade participou também, junto a outras organizações estudantis, de outros momentos-chave da história brasileira, como o movimento das Diretas Já

 

(UNE, 2023)

Luta dos estudantes pela aprovação da PEC da Juventude no Congresso Nacional, abrindo espaço para a proposição de políticas voltadas exclusivamente para jovens

 

Nas últimas décadas, o movimento estudantil diversificou sua área de atuação, incluindo, em sua pauta, entre outras questões, a defesa de minorias, como estudantes negros, mulheres, LGBTQIA+. Além disso, sempre se posiciona politicamente diante das eleições presidenciais e luta pela melhoria da educação pública, vista como essencial para o progresso rumo à conquista de uma cidadania plena.

No Brasil, é forte a ideia de se cursar uma graduação depois do ensino básico, ideia essa atravessada de expectativas e que representa um grande passo na capacitação do cidadão para o esperado ingresso no mercado de trabalho. Assim, muito se fala sobre os ganhos pessoais e profissionais proporcionados pela realização de um curso superior, no entanto, nota-se também que o acesso a ele não é tão simples, sendo um processo marcado por desigualdades, conforme percebemos pelos relatos dos próprios estudantes.

No início de 2019, aos 17 anos, Bruno Felipe Carvalho saiu da sua cidade natal, Caruaru, no interior de Pernambuco, em direção a Recife, para iniciar o curso de Engenharia - ABI na UFPE. Antes de ingressar na universidade, Bruno havia estudado apenas em instituições particulares de ensino, então, na inscrição para o Enem, ele se inscreveu na categoria de ampla concorrência. Mesmo diante da possibilidade de cursar a graduação em uma instituição privada, Bruno optou por cursar o ensino superior em uma universidade pública: “Mesmo com todo o sucateamento em alguns centros nas universidades, [elas] ainda são uma garantia de ensino de qualidade e, por serem gratuitas, todos têm acesso, teoricamente, a essa rede de ensino. […] A gente sabe que a maior parte de quem ingressa na universidade pública é quem teve acesso a um ensino de maior qualidade na educação primária, que, em compensação, não é tão democratizada como o ensino superior. A gente tem universidades de altíssima qualidade, enquanto que o ensino médio e fundamental são  muito precários no país”, afirmou o aluno. 

Diante dessa necessidade, explicitada no discurso de Bruno, de democratização, foi criada a Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012), que completou 10 anos em 2022. A lei assegura o ingresso de pessoas de baixa renda, assim como de autodeclaradas pretas, pardas, indígenas e/ou com deficiência, na universidade. O objetivo dessa medida é diminuir a desigualdade social e o racismo estrutural, que freiam o acesso de muitas pessoas à educação superior e, consequentemente, a melhores oportunidades no mercado de trabalho. Mas, afinal, o que isso significa, na prática, para a comunidade estudantil e como isso impacta a parcela dos estudantes que hoje podem ingressar na universidade?

Diferentemente de Bruno, a aluna Brendha Rubi estudou quase a vida inteira em escolas públicas e afirma, com firmeza, que conseguiu ingressar na UFPE graças ao sistema de cotas. Aos 19 anos, Brendha recebeu a notícia de que havia passado no curso de graduação em Letras - Português, na UFPE, e logo iria começar a estudar no Centro de Artes e Comunicação (CAC). Ela ressalta a desigualdade, na formação básica dos estudantes, entre as escolas públicas e privadas: “A gente sabe a diferença de uma escola particular, de uma pessoa que pode pagar um cursinho ou qualquer coisa do tipo pra quem vem de uma escola pública como a minha, em que muitas vezes nem professor tem. É muito diferente, sabe? O conhecimento, tudo é muito diferente”. Brendha também reforça a importância das políticas afirmativas: “Acredito que [o sistema de cotas] seja uma forma de tentar equilibrar essa diferença tão gritante que é [um aluno de uma] escola pública com todos os seus problemas e um aluno que vem de uma escola particular grande, que tem mais oportunidades, então a questão das cotas é indispensável”. 

Diante da realidade discutida, vê-se como é fundamental celebrar o Dia do Estudante, símbolo das lutas e da força do movimento estudantil e lembrete do impacto da acessibilidade da educação superior na vida dos cidadãos. A Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc) da UFPE apoia o corpo estudantil e destaca a sua importância na busca por uma sociedade mais justa, crítica e igualitária. Como disse Malala Yousafzai, ativista paquistanesa vencedora do prêmio Nobel da Paz: “Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é solução”.

 

Data da última modificação: 10/08/2023, 10:34