Parte III – O projeto ufpe futuro Parte III – O projeto ufpe futuro

As tendências da educação superior, pesquisa e inovação devem pressionar mudanças na UFPE

Estimativas recentes anunciam que 60% dos jovens que hoje entram no mercado de trabalho terão seus empregos radicalmente afetados pela automação ao longo dos próximos 10 a 15 anos, e que esta tendência tende a se acentuar. Estima-se, que em torno de 65% das crianças que ingressaram na escola a partir de 2011 trabalharão em carreiras que hoje não existem. Em paralelo a esta revolução da “computarização” da economia e da sociedade, temos testemunhado uma impressionante redução dos ciclos de vida dos produtos e mesmo das tecnologias neles embutidas, num processo de aceleração de sua prematura obsolescência.

Embora muito se tenha discutido sobre os efeitos sociológicos e psicológicos deste processo, pouco ainda se registra quando a discussão envolve os efeitos sobre a formação do(a)s profissionais, em geral, e daquele(a)s em áreas tecnológicas, em particular. É muito provável que a maior parte do conhecimento que ele(a) venha a mobilizar no final de sua vida profissional, lá pelo ano 2045 ou 2050, nem exista hoje, muito menos lhe será transmitido durante seu curso universitário. Consequentemente, sua carreira dependerá cada vez mais de sua própria capacidade de buscar os conhecimentos de que venha a necessitar. Em tal contexto, o/ as profissionais serão obrigados a adotar atitudes de prontidão cognitiva, de contínua reeducação, tudo sob sua própria responsabilidade, e não de forças externas lhe ditem o que deve ou não fazer. Com esta aceleração dos ciclos tecnológicos que levarão à redução do tempo útil do conhecimento que o(a) jovem recém-formado(a) terá adquirido ao longo de sua formação, é importante dotá-lo(a) de competências que lhe permitam atualizar constantemente seus conhecimentos ao longo dos cerca de 40 anos de duração de sua carreira.

Assim, a Universidade deve preparar o(a)s estudantes para que sejam sujeitos de sua contínua formação no futuro, ao invés de dotá-los de um estoque de conhecimentos que se tornarão rapidamente obsoletos. Ao longo da graduação deve ser estimulado o desenvolvimento de competências, ou seja, dos recursos que o indivíduo vai conseguir mobilizar em sua vida profissional quando necessário, ao invés de conhecimento acabado para ser aplicado em situações repetitivas. Tais competências emergirão de uma abordagem complexa que combina dimensões tecnológica, humanista e ambiental, em contraposição a conhecimentos compartimentados e desconectados do ambiente em que se situam os futuros profissionais. A Universidade deve estimular, portanto, seus alunos a adquirir conceitos básicos e desenvolver atitude investigativa que lhes permitam identificar e enfrentar problemas novos, observando o contexto social e ambiental em que estes emergem e os conflitos que provocam. 

Para tanto, é necessário desenvolver habilidades tais como criatividade, autodeterminação e capacidade de iniciativa, pensamento crítico, comunicação e colaboração, adaptabilidade, resiliência e senso de responsabilidade por sua própria reeducação contínua e pelas implicações sociais e ambientais que suas ações venham a causar. Recursos básicos neste contexto de futuro que se avizinha incluem o raciocínio lógico e a lógica computacional, fundamentos de programação e inteligência artificial (IA), métodos de investigação multi e transdisciplinar, métodos de análise de grande quantidade de dados e noções de humanidades que permitem ao/à profissional contextualizar a realidade social mais ampla sobre a qual deverá intervir, bem como domínio de línguas estrangeiras. A partir das habilidades e recursos que se deseja promover, chega-se aos conteúdos das disciplinas a serem desenhadas, inspiradas em métodos de ensino-aprendizagem inovador com ampla mobilidade. Esta última assume papel central na formação dos estudantes e ampliação das possibilidades de produção de conhecimento para os pesquisadores, incluindo a mobilidade e troca de experiências internacionais. Não deixando de reafirmar o foco no desenvolvimento autônomo e superação do atraso econômico e social ainda presente no país, compreende-se que a produção de conhecimento relevante localmente se beneficia do intercâmbio internacional e da cooperação entre laboratórios de pesquisa localizados em diferentes países, atuando em temas e problemas relevantes para suas respectivas sociedades e economias. A formação em línguas estrangeiras e o conhecimento de culturas diversas adicionam atributos valiosos para a formação profissional e ampliação da visão de mundo de estudantes e pesquisadores.