Projetos de Pesquisa Projetos de Pesquisa

Linha 1: Filosofia Prática Contemporânea

 

Crítica dos afetos: Qual o papel das emoções em uma teoria normativa da sociedade?

Filipe Campello (Bolsista de Produtividade do CNPq)

 

A pesquisa pretende desenvolver um quadro conceitual sobre a relação entre teoria normativa e afetos. Trata-se de investigar, em particular, em que medida experiências subjetivas e sentimentos morais podem ser tomados como critérios para críticas de injustiça. Tendo em vista trabalhos empiricamente informados sobre o papel de conteúdos emotivos e afetivos na práxis social, em processos decisórios e na constituição de juízos morais, as hipóteses que pretendo investigar são 1) que a validade descritiva de uma teoria social depende de uma análise do papel constitutivo dos afetos nas esferas sociais e 2) que o potencial normativo desta teoria está vinculado ao escrutínio do significado formativo das instituições. Com isso, pretendo investigar duas dimensões do que pode ser entendido como uma teoria crítica dos afetos: do ponto de vista descritivo, discutir limites e ambiguidades na articulação de sentimentos e experiências subjetivas, e, no que se refere ao aspecto normativo, evidenciar um possível marco institucional de processos de formação dos afetos. 

 

Identidade e Sofrimento

Érico Andrade (Bolsista de Produtividade do CNPq)

 

 O projeto de pesquisa Identidade e Sofrimento que desenvolvi nos últimos anos teve o propósito de sustentar que a narrativa de si pode ser compreendida como um modo de instituir uma singularidade dinâmica e plural de si mesmo. Seu foco estava na quebra da noção de identidade para fazer emergir uma compreensão de si mesmo que não fosse a sedimentação de fatos articulados em torno de uma unidade fixa e que seria capaz de nos oferecer uma identidade. O conhecimento de si nestes termos não seria estritamente cumulativo como se estivéssemos mais próximos de nos conhecer na medida em que o tempo avança em sua linearidade. Defendi que a narrativa de si estaria mais ligada a diferentes perspectivas com as quais operamos diferentes interpretações sobre a nossa história. O foco do meu projeto era avançar numa compreensão plural de si mesmo (daquele que se narra ou que relata a si mesmo) no sentido de pôr em xeque certas estruturas fixas com as quais nós fantasmaticamente nos identificamos. No presente projeto tenciono compreender se algumas experiências fenomenológicas não poderiam  impor um limite à minha tese inicial. Ou seja, certas narrativas de si não estariam inevitavelmente marcadas por uma perspectiva identitária? Pretendo abordar especificamente neste projeto a experiência singular de ser negro. Assim, pergunto-me se ela pode ser múltipla e variada como aquelas dos outros corpos ou certos condicionantes sociais coloniais vedam, neste caso específico, uma perspectiva radicalmente plural de si mesmo? O racismo seria um empecilho socialmente imposto ou ideologicamente imposto para os corpos negros lhe sendo óbice à possibilidade de terem uma narrativa plural de si mesmos para além da narrativa que se lhe foi imposta? A minha hipótese é de que a construção singular da experiência de narrar a si mesma das pessoas negras é realizada por um viés comunitário que escapa às determinações discursivas por meio das quais a branquitude institui a fantasia da identidade. O presente projeto se insere na linha de Filosofia Prática Contemporânea porque toca num dos maiores desafios para a comunidade filosófica nos tempos de hoje, que é pensar o racismo e mais especialmente o modo como ele, por meio do discurso filosófico, foi responsável por criar um fantasma em relação às pessoas negras para cujo combate se requer uma recuperação da singularidade das pessoas negras. Para discutir essa singularidade irei recorrer também à psicanálise e, portanto, irei estabelecer uma interface com outra área do conhecimento humano além da filosofia. 

 

Virtus: Defesa social, segurança pública, direitos humanos e a ética da alteridade. 

Sandro Sayão

 

A partir de leituras filosóficas contemporâneas, de autores como Emmanuel Levinas, Michel Foucault, Hannah Arendt, Giorgio Agamben, Louis Althusser, Adorno e Horkheimer buscamos analisar o sentido da segurança pública em nosso tempo, tendo como foco central a discussão a respeito do uso da força, a restrição de liberdade, os processos de contenção e interdição do agir, o encarceramento e as razões do agir vigilante em nossa sociedade. A ideia é realizar um escavamento teórico filosófico de questões centrais relacionadas à temática da segurança pública, tema extremamente negligenciado e carente de reflexões apuradas dentro de um contexto democrático e ético como a sociedade brasileira.

 

Apresentação e edição crítica dos cadernos universitários de Nietzsche

Eduardo Nasser

 

Este projeto de pesquisa almeja levar a cabo uma apresentação teorética e edição crítica dos cadernos estudantis de Nietzsche – os chamados Kollegnachschriften (doravante KNs) –, com ênfase nos cadernos universitários C II 3, C IV 3a e C IV 3. O objetivo é incluir os KNs no material que compõe a Digitale Kritische Gesamtausgabe (eKGWB). Desde a publicação da edição crítica de Giorgio Colli e Mazzino Montinari, tivemos acesso às edições filologicamente mais confiáveis dos escritos de Nietzsche. No entanto, aquela ainda não é uma edição de obras completas concluída, uma vez que as notas de aula dos anos escolares e universitários não foram integradas. Este material foi publicado pela primeira vez, em versão fac-símile, na Digitale Faksimile Gesamtausgabe (DFGA). Apesar disso, devido às irregularidades gráficas, sobreposições e interpolações que envolvem partes dos escritos de Nietzsche nesta versão, é necessário providenciar transcrições e a organização do material em formato de uma edição crítica. Com relação aos cadernos universitários, aqueles com siglas C II 3, C IV 3a e C IV 3 são de manifesta importância, pois foram utilizados diretamente na composição dos manuscritos do curso oferecido por Nietzsche na Universidade de Basel, possuindo, assim, estatuto de fonte. Portanto, este projeto de pesquisa espera fornecer contribuições tanto para a finalização das obras completas, como para o campo de estudo de fontes. Esse trabalho está vinculado à vertente editorial do projeto Nietzsche Source, dirigido por Paolo D'Iorio (CNRS-ENS). Os resultados serão ulteriormente integrados à edição eKGWB (Digitale Kritische Gesamtausgabe Werke und Briefe). No Brasil, este projeto de pesquisa está sediado no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGFIL/UFPE) e conta com a colaboração do Grupo de Estudos Nietzsche (GEN-UFPE). Em virtude da contribuição para o estabelecimento definitivo de textos da filosofia de Nietzsche, cujo impacto mais significativo se faz notar no campo da axiologia, o projeto de pesquisa se insere na linha Filosofia prática contemporânea do PPGFIL/UFPE. 

 

Nietzsche e o valor filosófico da linguística

Eduardo Nasser

Projeto financiado pela Alexander von Humboldt-Stiftung

Enquanto filólogo clássico, Nietzsche manifesta apreço pela linguística, e isso não obstante a relutância de influentes classicistas defronte o súbito êxito científico e institucional daquela disciplina na primeira metade do século XIX. É no Curso sobre gramática latina, oferecido na Universidade de Basel durante o semestre de inverno de 1869-70, que se faz notar essa posição receptiva, quando Nietzsche se serve do modelo classificatório genealógico e tipológico das línguas elaborado por August Schleicher. Contudo, não se deve assumir que Nietzsche adere de forma irrestrita ao naturalismo linguístico de Schleicher. Primeiro por ele entender que a linguística deve estar sujeitada ao projeto educacional pautado pelo idealismo do clássico, propagado pelos neohumanistas alemães, o que redunda na defesa da superioridade das línguas clássicas na cadeia de desenvolvimento das línguas. Em segundo lugar, e particularmente importante para essa pesquisa, em razão de Nietzsche identificar no método dos linguistas, a linguística comparada, um instrumento de valor filosófico. Através da linguística comparada, a seu ver, seria possível trazer esclarecimentos sobre a natureza do pensamento (num sentido tanto lógico quanto psicológico; tanto ideal quanto concreto), dos impulsos e, no limite, do homem em geral. Perante essa ambiciosa tese interdisciplinar, eu pretendo mostrar que, para concebê-la, Nietzsche teve que operar, mesmo que implicitamente, com um modelo linguístico alternativo ao schleierchiano, mais próximo ao veiculado pela linguística logicista (Becker) e/ou pela linguística psicologista (W. Humboldt). Schleicher restringe a linguística ao âmbito externo das línguas, morfológico e sonoro, alheio à influência do espírito, na expectativa de ali identificar leis; mas o objetivo de retirar implicações filosóficas da linguística só pode ser admissível se se toma a matéria das línguas enquanto expressão do espírito.

 

Genealogia da malandragem

João Evangelista Tude de Melo Neto

 

Costuma-se apontar a corrupção como uma das maiores mazelas da sociedade brasileira. Geralmente, quando questionada acerca desse assunto, a opinião pública tem como alvo favorito de críticas à classe política. É curioso, no entanto, que boa parte dessas pessoas que avaliam negativamente seus representantes costuma recorrer, cotidianamente, a pequenos artifícios que burlam o costume moral e, muitas vezes, até a lei. Estamos nos referindo ao nosso jeitinho brasileiro, à malandragem e ao jogo de cintura, ?categorias? que, já incorporadas à nossa cultura, convivem lado a lado com os valores morais mais tradicionais. Levando isso em conta, podemos afirmar que, no Brasil, existe uma espécie de dualidade moral, na qual a ?moral? do jeitinho e da malandragem coexiste, paralelamente, com a ética oficial. O mais interessante é que essa dualidade não se dá de forma dicotômica, já que os mesmos indivíduos transitam entre os dois paradigmas. Dependendo das circunstâncias, eles aderem a um dos modelos e, a partir deste, agem e realizam suas apreciações ?morais?. O cidadão que cobra dos políticos o cumprimento dos preceitos da moral tradicional é o mesmo que usa o expediente do jeitinho e da malandragem. Esse caráter peculiar de nossa sociedade exige-nos alguns questionamentos: o que levou a cultura brasileira a essa ambiguidade moral? O que fez com que nossa sociedade cultivasse certa glorificação da malandragem? E mais: será que essa exaltação do tipo ?malandro? tem contribuído para o engrandecimento de nossa cultura ou para sua degeneração? Tendo em mente essas questões, o intento de nossa pesquisa é realizar um exame filosófico acerca da malandragem e do ?jeitinho brasileiro? fazendo uso do procedimento genealógico como marco teórico. O procedimento genealógico (ou genealogia) consiste numa espécie de método proposto por Nietzsche que tem por objetivo realizar o exame na procedência histórica nos valores morais e, a partir disto, avaliá-los..

 

 

Era Nietzsche um metafísico?

João Evangelista Tude de Melo Neto

 

Neste projeto se reflete sobre a relação do pensamento nietzschiano com a metafísica. É uma questão antiga, mas que, no meu entender, ainda não foi bem resolvida. Ela remete à tese interpretativa de Heidegger - isto é, à afirmação de que a filosofia de Nietzsche é a fase final da tradição metafísica, mas não sua superação. O problema se desdobrou ao longo do século XX e perdura até hoje. Ou seja, muita gente tentou dialogar com Heidegger e respondê-lo. Contudo, essa tradição de comentadores, no meu entender, adotou uma estratégia equivocada.  Quase sempre, tomou-se como referência a concepção de metafísica do próprio Heidegger para realizar a verificação acerca do suposto caráter metafísico do pensamento de Nietzsche. Compreendo, todavia, que o caminho a ser tomado é outro, qual seja, confrontar o modo de pensar nietzschiano diretamente com o modo de pensar da tradição metafísica. Só, a partir disso é que poderemos verificar se é possível, ou não, enquadrar Nietzsche entre os metafísicos.

 

Raça e Biologia

Rogério Saucedo

 

O principal objetivo do projeto “Raça e biologia” é avaliar o escopo do argumento eliminativista. As pesquisas em biologia evolutiva dos anos setenta demonstraram que não existem raças genéticas. Nesse sentido, se não existe nada no mundo que corresponda aos termos raciais, então devemos eliminá-los dos nossos léxicos. No entanto, a cladística ou filogenética e a raça ecológica fornecem conceitos alternativos de raça. Se estas concepções escapam da crítica eliminativista, então é possível afirmar que existem raças. Como objetivo secundário o projeto analisa se estas concepções possuem uma noção essencialista de raça. O essencialismo racial é a característica fundamental do racialismo, pois para este a raça é uma essência passada de geração para geração. Esta essência pode ser genética ou de qualquer outro tipo e ela está na base de todo e qualquer tipo de racismo. Desse modo, conhecer os pressupostos das concepções de raça é uma condição básica para esclarecer se elas são ou não racialistas.  Neste projeto ainda se pretende analisar a linguagem dos pejorativos a partir das principais teorias semânticas e não semânticas. Pejorativos é o conjunto de expressões formado por injúrias, palavrões e ofensas. Geralmente eles são usados na linguagem ordinária para ofender e depreciar seus alvos. Desse modo, um domínio dos aspectos semânticos, sintáticos e pragmáticos é importante para se conhecer o funcionamento dessas expressões.

 

Eros e tirania na República de Platão

Richard Romeiro

 

Pode-se dizer que o problema da tirania constitui um dos temas centrais da rica e multifacetada reflexão política levada a efeito por Platão em suas obras. A influência platônica ainda se vê em discussões sobre governos despóticos e fascistas atualmente. De fato, do Górgias às Leis, passando pela República, pelo Político e pela Carta VII, percebemos que a questão do regime tirânico assoma, para Platão, como um inquietante fenômeno político, que merece, como tal, ser convertido no objeto de uma investigação filosófica atenta e mais rigorosa, a fim de que sua natureza própria possa ser compreendida. Ora, pode-se igualmente dizer que, na execução dessa tarefa de compreensão da natureza da tirania, a República possui, no interior do Corpus Platonicum, uma importância inquestionável, de vez que é nas suas páginas que encontramos a abordagem platônica mais completa e aprofundada desse assunto. É o que nos mostram, decerto, os livros VIII e IX dessa obra, nos quais Platão, procedendo à elaboração de uma genuína teoria ou tipologia dos regimes, consagra um espaço privilegiado ao tratamento da tirania. Grosso modo, percebemos que, no contexto dessa tipologia dos regimes elaborada na República, a pretensão platônica consiste em tentar nos mostrar o regime tirânico como um fenômeno político dotado de uma perversa radicalidade, na medida em que sua irrupção, desencadeando um tipo de experiência política visceralmente negativa, cujas características põem em xeque os fundamentos

mesmos da vida cívica e social, coloca-nos em face do que seria a expressão máxima do mal na esfera da cidade. No entanto, é preciso reconhecer que, ao desferir esse ataque contundente à tirania, a República não manifesta grande originalidade, porquanto a condenação do governo tirânico como expressão do mal na esfera política era um lugar comum do pensamento político grego da época. No que diz respeito a esse assunto, a novidade filosófica do diálogo jaz alhures: mais precisamente, ela se localiza no método psicossocial eleito por Platão para abordar o problema da tirania, método que pretende trazer à luz os mecanismos psíquicos e morais subjacentes à formação desse fenômeno político. O objetivo do presente projeto, que se insere na linha de pesquisa “filosofia da ação”, consiste em analisar os elementos acima indicados a fim de esclarecer como Platão, na República, logra evidenciar, pela primeira vez, na história do pensamento político ocidental, como o aparecimento da tirania não é algo que se esgota na esfera das estruturas políticas exteriores da cidade, mas representa um acontecimento que possui raízes mais profundas, que mergulham nos recessos internos da alma e do caráter humano, o que lhe permite finalmente explicar de modo filosoficamente satisfatório a gênese da tirania como o resultado de uma alteração da economia saudável de nossa psique e de nosso éthos.

 

Ontologia, Ética e Política no pensamento filosófico-teológico medieval

Marcos Costa

 

Estudo-pesquisa dos fundamentos que estão nas origens, natureza e formação/desenvolvimento do pensamento filosófico-teológico medieval, notadamente das relações entre ontologia e filosofia prática (ética e política), destacando os elementos (conceitos) que influenciaram na sua composição, bem como, os principais períodos ou fases com suas características e problemáticas próprias, trazendo a tona uma variedade de filosofia-teologias dentro da unidade da filosofia-teologia medieval, as quais poderão servir de base para a reflexão/ação do fazer filosofia/teologia nos dias de hoje.  

 

Linha 2: Fenomenologia e Cognição

 

Notas Sobre A Natureza Da Lógica: Uma Proposta Enativista

Projeto Financiado Pelo CNPQ - Edital Universal

Marcos Silva

 

Os críticos muitas vezes defendem que o enativismo radical (REC) não pode ser ampliado para explicar atividades cognitivas mais sofisticadas como na lógica e na matemática, que muitas vezes são consideradas constituídas por representações. A naturalização da cognição proposta por essa teoria é então tida como de escopo limitado. A fim de oferecer uma solução para a objeção de escopo contra ela, investigo como a REC pode estar relacionada a uma abordagem pragmatista mais ampla para examinar a normatividade da lógica no contexto da existência de uma grande pluralidade de lógicas alternativas. Para enfrentar esse problema, pretendo defender uma proposta filosófica enativista abrangente baseada na normatividade de nossas práticas inferenciais pautadas. Assim, defendo um relato de algumas conexões importantes entre lógica e normatividade, que recusa visões tradicionais representacionalistas, individualistas, internalistas e intelectualistas da lógica e se concentra em interações dinâmicas e governadas entre agentes cognitivos com seu ambiente. A interpretação a ser desenvolvida aqui é que a obrigação racional deve ser tomada como uma obrigação normativa que nos une e, em particular, que a necessidade lógica deve ser tomada como uma espécie de coerção normativa, baseada em noções normativas como regras, autorizações, proibições e compromissos. Se a lógica, com vários sistemas não clássicos diferentes, é principalmente normativa, e não descritiva, é possível naturalizá-la, significando que a lógica não é um verdadeiro desafio para o REC.

 

 

Pluralismo Lógico, Normatividade da Razão e Neo-pragmatismo

Projeto Financiado Pelo CNPQ - Bolsa de Produtividade

Marcos Silva

 

Como entender a normatividade da razão no contexto do pluralismo lógico a partir de uma proposta neo pragmatista? É fácil observarmos a razão como desempenhando um papel de autoridade e que deveríamos obedecê-la, ou ao menos, que deveríamos tentar obedecê-la. Contudo, não é nada óbvio como nós poderíamos explicar a natureza da autoridade que nos compele a obedecer a razão. Por que e como nós tomamos a razão como uma autoridade e nos sentimos obrigados a obedecê-la? Qual é a natureza da demanda por justificação? Em virtude do que nos sentimos coagidos pela razão em nossas práticas inferenciais, em raciocínios de ordem teórica e práticas? A força da razão pode ser tomada, como, por exemplo, guiando nossas decisões para a vida prática como a força compelindo-nos a aceitar uma conclusão de uma prova. Contudo, como algumas formas de raciocínio podem nos compelir a agir e a inferir e outras não?As dificuldades com a natureza da razão e com a normatividade da lógica parecem ainda mais difíceis no contexto contemporâneo da grande diversidade de sistemas lógicos. Para explorarmos o problema do pluralismo lógico, neste trabalho, meu objetivo é desenvolver uma proposta filosófica enativa e pragmatista baseada na noção de jogos, isto é, de práticas regradas, e de acordos públicos para se entender o fenômeno da racionalidade em geral, e, da necessidade lógica, em particular. Com efeito, o projeto visa desenvolver uma investigação filosófica conectando jogos, provas e moralidade, que recusa visões tradicionais da lógica baseadas no representacionalismo, individualismo, internalismo e intelectualismo ao se concentrar nas interações regradas, corporificadas e dinâmicas de agentes racionais com o meio ambiente. A interpretação a ser desenvolvida aqui é a de que a obrigação racional deveria ser tomada como um tipo de obrigação moral que nos une, em particular, que a necessidade lógica deveria ser tomada como uma forma de coerção moral, baseada nas noções normativas de regras,autoridade, comprometimento e reconhecimento mútuo. Neste projeto,investigaremos como o neopragmatismo pode contribuir para a compreensão da normatividade da lógica no contexto do pluralismo lógico.

 

Wittgenstein, "Sobre a Certeza" e a Revisão da Lógica

Marcos Silva

 

Minha proposta concernente ao problema da justificação e normatividade na revisão da lógica pretende desenvolver alguns tópicos apresentados no "Sobre a Certeza" de Wittgenstein, oferecendo uma visão neo-pragmatista sobre a pluralidade de lógicas não-clássicas. Aplico a "hinge epistemology" de Wittgenstein e seu anti-realismo na discussão sobre a normatividade em meio a lógicas rivais.  Assim, rejeito a abordagem realista à lógica e proponho uma visão na qual a natureza de princípios lógicos está relacionada com proposições "hinge". Pretendo mostrar que, se princípios lógicos puderem ser tomadas como proposições "hinge", nós devemos reconhecer o papel que elementos como educação, instituição, e conversão desempenham em nossas práticas inferenciais.

 

Concepções teóricas da consciência e o problema dos fenômenos mentais inconscientes

Tárik Prata
 

O projeto de pesquisa “Concepções teóricas da consciência e o problema dos fenômenos mentais inconscientes” aborda algumas entre as inúmeras teorias da consciência na contemporaneidade, concentrando-se no conceito de consciência enquanto uma propriedade de estados mentais, e investigando a sustentabilidade de uma visão psicológica do inconsciente. Tem especial destaque no projeto concepções oriundas da tradição fenomenológica (Brentano e Sartre), bem como teorias importantes na atual filosofia da mente (Armstrong, Searle, Rosenthal, Gennaro e Kriegel). Os objetivos da pesquisa são: (1) elucidar algumas tentativas de classificação dos fenômenos mentais, bem como (2) discernir alguns dos inúmeros conceitos de consciência (aqueles que são relevantes para a pesquisa); (3) Elucidar as características fundamentais de uma concepção disposicional do inconsciente (na tentativa de determinar se esse tipo de concepção consegue, de fato, dar conta de explicar as situações que parecem exigir a postulação de motivações inconscientes para a ação); e (4) Investigar as teses básicas de uma concepção psicológica do inconsciente, com o intuito de determinar se esse tipo de concepção é, de fato, capaz de fundamentar a tese de que as (supostas) motivações inconscientes de nossas ações possuem (pelo menos algumas das) características distintivas dos fenômenos mentais. A pesquisa parte da hipótese de que a concepção psicológica do inconsciente é a mais adequada, pois uma série de situações concretas que sugerem a existência de estados mentais inconscientes são melhor compreendidas seguindo a suposição de que tais estados (inconscientes) são propriamente mentais, e não meramente disposicionais.

 

O sentido existencial das idades

Sandro Sena

 

O projeto de pesquisa atual tem como título “O sentido existencial das idades”. Trata-se de um projeto inserido área de estudos em fenomenologia hermenêutica, no qual – tomando como ponto de partida a rede conceitual estabelecida pela analítica existencial da primeira fase das reflexões do pensador Martin Heidegger –, é desenvolvida uma interpretação da estrutura ontológica e sentido temporal do poder-ser etário em geral e, derivadas desta interpretação, as interpretações particulares das possibilidades da infância (que inclui um necessário estudo do fenômeno da imaginação), da juventude (que inclui um necessário estudo do fenômeno da sensação) e da velhice (que inclui um necessário estudo do fenômeno da memória).

 

Fenomenologia e Natureza

Thiago Aquino

 

A intitulada "Fenomenologia e Natureza", propõe o exame  do projeto fenomenológico de Edmund Husserl e Maurice Merleau-Ponty à luz da problemática do mundo. Fundamentalmente, procuro elaborar uma resposta à questão geral: Qual a concepção fenomenológica acerca da relação entre espírito e natureza? Este eixo temático geral servirá de referência para a investigação dos seguintes tópicos específicos: a. Ontologia da natureza; b. Crítica ao naturalismo, c. corporeidade, d. Temporalidade..

 

 

Os experimentos de pensamento na confluência entre a filosofia e a literatura

Juliele Sievers

 

Este projeto pretende realizar um estudo interdisciplinar entre os campos da Filosofia, da Ciência e da Literatura, através da análise sobre o uso que estas áreas fazem de um instrumento teórico chamado “experimento de pensamento”. Os experimentos de pensamento, ou experimentos mentais, estão presentes na história da Filosofia desde a Antiguidade, mas ganham notável interesse apenas no período contemporâneo. Por ser um elemento presente em diversas áreas do saber (Newton e Einstein, mas também Aristóteles e Galileu eram conhecidos “experimentadores do pensamento”), é difícil apresentar uma definição do termo que contemple os diferentes usos que dele são feitos nestas diferentes disciplinas. No entanto, podemos compreendê-lo como sendo um recurso teórico que auxilia na explicação de uma tese ou conceito de difícil compreensão, através da construção de um cenário imaginário que descreva o problema teórico em questão de maneira lúdica, visual e dinâmica. Assim, temos que tanto a chamada Alegoria da Caverna platônica pode ser vista como uma experimentação mental que constrói um cenário facilitador das teses de Platão, como também, de maneira similar, o experimento da Torre de Pisa idealizado por Galileu para demonstrar a tese sobre a aceleração na queda dos corpos foi o elemento que lhe permitiu “mostrar” que os corpos caem na mesma velocidade no vácuo, já que isso não poderia ser demonstrado de maneira factual, na época. Época mesma em que o saber hoje dito “científico” era legado à esta disciplina chamada de Filosofia Natural. Neste contexto, nosso projeto visa estabelecer uma nova “chave de leitura” para este elemento tão correntemente utilizado na especulação científica e filosófica, o experimento de pensamento. Uma vez o experimento mental representando este esforço imaginativo para elaborar uma narrativa visual mental que auxilie na investigação teórica, consideraremos em que medida um tipo especial de corrente literária, a saber, a ficção científica, não representaria ela também um recurso epistemológico facilitador na compreensão de teses científicas e filosóficas. O projeto propõe partir de uma análise teórica das sistematizações contemporâneas a respeito dos experimentos mentais, i.e. o estudo da “taxonomia” feita pelo autor James Robert Brown (1991), que classifica os experimentos de pensamento de acordo com a função que estas narrativas imaginadas desempenham em uma dada teoria. A partir dessa base teórica a respeito do estatuto filosófico e do uso sistemático de experimentos mentais por disciplinas como a Filosofia, mas também a Física e demais ciências naturais, pretendemos avaliar exemplos de textos – filosóficos, literários e científicos – onde o uso de experimentos mentais sugere um apagamento das fronteiras Assim, a partir destas articulações teóricas, revelando as aproximações, mas também as tensões entre a produção filosófica, científica e literária, buscaremos demonstrar a relevância e a eficácia das narrativas imaginárias envolvidas nos experimentos mentais para alargar o alcance epistêmico das teses às quais eles estão vinculados.

 

A Mente Representacional: Teleosemântica, Intencionalidade e Função Biológica

Sergio Farias

 

O propósito deste projeto de pesquisa é defender e desenvolver a teleosemântica à luz de dois problemas fundamentais que parecem inviabilizá-la. A teleosemântica é uma teoria naturalista da representação mental que propõe a redução de representações mentais a estados de funções biológica. A tese central da teleosemântica é a identificação do conteúdo do estado representacional com a condição externa sob a qual o estado representacional executa sua função biológica. O primeiro problema fundamental é o problema do status metateórico da redução teleosemântica: seria a redução do estado representacional ao estado de função biológica uma redução teórica análoga à redução científica da água a H2O ou teria uma natureza diversa? Este problema se torna especialmente grave à luz do experimento de pensamento de Swampman. O primeiro objetivo desta pesquisa é avaliar as diversas concepções metateóricas da redução teleosemântica disponíveis e desenvolver uma nova concepção metateórica a partir da adoção do método de equilíbrio reflexivo. A partir disto, será defendido que a redução teleosemântica é, em certa medida, compatível tanto com o caráter explicativo da postulação de estados representacionais como com nossas intuições pré-teóricas da intencionalidade. O segundo problema fundacional a ameaçar a teleosemântica é o problema da indeterminação funcional. Há casos de indeterminações funcionais nos quais parece ser indeterminada a função de certos traços biológicos. Se este é o caso, então a própria especificação teleosemântica do conteúdo é indeterminada, uma vez que a teleosemântica determina o conteúdo de uma representação mental a partir de sua função biológica.

 

 

 Normas de gênero e suas influência pré-reflexiva nas ações intencionais

 Beatriz Sorrentino

 

Ações oriundas da habituação a agir de acordo com regras sociais implícitas, como normas de gênero, podem resultar na falta de ciência do agente do significado moral da ação, como quando se trata de uma ação sexista. Essa é uma questão para teorias que explicam ações e para as condições para a responsabilização moral. É comum que agentes não se deem conta de que sua conduta costuma seguir normas de gênero. Além disso, a própria experiência consciente de agir é afetada pelo gênero. Sendo assim, é importante investigar a influência de normas de gênero e outras influências pré-reflexivas nas ações intencionais e na responsabilização moral.

 

 

Representação Mental e Experiência Sensorial

Sergio Farias

 

Este projeto tem como tópicos de pesquisa a intencionalidade de estados representacionais e o
caráter fenomenal da experiência sensorial. No que concerne à representação mental, pretende-se
defender a teleosemântica – as teorias teleológicas da representação mental – de dois problemas que
parecem inviabilizá-la enquanto uma abordagem naturalista para a representação mental: o problema do
conteúdo distante e o problema das propriedades mutualmente implicadas. No que concerne à experiência
sensorial, pretende-se avaliar o debate entre duas teorias metafísicas da experiência sensorial: as teorias
representacionalistas e a visão qualitativa. Espera-se que a pesquisa possa contribuir para a compreensão
da constituição ontológica de estados representacionais e da experiência sensorial.