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UFPE participa da criação de equipamento que permite manutenção de subestações elétricas sem interrupção do fornecimento de energia

Parceria entre a companhia Neoenergia, a UFPE e a empresa Montrel resultou no analisador de malha de aterramento AMT 600, que será lançado em agosto

Por Eugênia Bezerra

A utilização de equipamentos importados encarece a manutenção das subestações que conectam as usinas elétricas às linhas que levam a energia para as cidades e o campo. Para enfrentar essa questão, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) participaram do desenvolvimento de uma tecnologia nacional a convite da companhia Neoenergia e em conjunto com a empresa Montrel (SP). O resultado da parceria é o analisador de malha de aterramento AMT 600, um equipamento de medição portátil que traz outro benefício além da redução de custos: ele permite que a inspeção seja feita sem a necessidade de se desligar as subestações de energia.

A avaliação periódica da condição em que essas malhas se encontram abaixo do solo é fundamental porque elas são um sistema de proteção que visa a segurança dos operadores, da comunidade no entorno das subestações e da própria instalação. 

“Se a resistência da mesma estiver alta, a malha está com problemas. Atualmente, é quase impossível desligar uma subestação de energia para realizar testes desse tipo porque isso implicaria fatalmente na falta de energia em alguma localidade (pela dificuldade de manobra da carga para outra subestação). No entanto, a concessionária é extremamente penalizada pela falta de energia pela Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]”, explica o professor Leonardo Limongi, do Departamento de Engenharia Elétrica (DEE) da UFPE.

“Por outro lado, o ambiente dentro de uma subestação de energia é bastante perigoso operacionalmente e desafiador para um equipamento eletrônico por causa das interferências geradas ali dentro. Então, o propósito do equipamento é aumentar a segurança operacional e ao mesmo tempo proporcionar uma medição que forneça dados confiáveis. Atualmente, isso só é feito com um equipamento importado chamado CPC100, da Omicron. Além da nacionalização, um ponto positivo para o nosso produto é que o equipamento está beirando a casa do R$ 1 milhão. Além disso, existem algumas situações específicas em que nem mesmo o CPC100 consegue realizar a medição correta. Isso acontece quando o cabo guarda que vem da linha de transmissão é conectado à malha de aterramento. Para esses casos, foi desenvolvido um acessório para calcular corretamente a resistência da malha”, continua o professor Leonardo.

Ele é um dos oito docentes do DEE-UFPE que participaram da iniciativa. Também fazem parte do grupo os professores Fabrício Bradaschia, Gustavo Azevedo, Márcio Brito, Alexander Barros, Zanoni Lins, Rafael Neto e Eduardo Barbosa – os dois últimos ainda eram doutorandos na época.

Após passar por toda a escala de desenvolvimento TRL, que se refere ao nível de maturidade de um produto, o AMT 600 está pronto para entrar no mercado e ser utilizado por outras distribuidoras, empresas e indústrias. Ele deve ser lançado no dia 14 deste mês, durante o 46º Circuito Nacional do Setor Elétrico (Cinase), que ocorrerá no Centro de Convenções de Pernambuco.

PARCERIA UNIVERSIDADE E EMPRESA – A iniciativa que resultou na produção do AMT 600 corresponde a mais um ponto na trajetória da parceria estabelecida entre o DEE-UFPE e a Neonergia, que já existe há 20 anos. 

“Elas foram evoluindo muito à medida que fomos formando recursos humanos da própria Neoenergia e alguns desses pesquisadores se tornaram professores da própria UFPE, como é o caso do professor Márcio Brito. Isso facilitou o nosso canal de comunicação com a Neoenergia e possibilitou que nós entendêssemos de forma muito mais acessível os problemas da empresa. Foi assim que surgiu a ideia, numa conversa do professor Márcio com o gerente do projeto, Rogério Sá”, recorda o professor Leonardo.

Já o terceiro lado da parceria, a empresa Montrel, sediada em Mogi Guaçu (SP), entrou na história após ter participado de outro projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) com a Cosern, distribuidora de energia do Rio Grande do Norte que também faz parte do grupo Neonergia.

“Tivemos uma sinergia muito boa com eles. Eles participaram desde os primeiros momentos do projeto porque a ideia desde o início já era transformar o equipamento em um item comercial”, avalia o professor Leonardo.

O docente explica que, para o desenvolvimento do AMT 600, foram necessários dois projetos. No primeiro deles, o objetivo era construir um protótipo, testar o conceito e levá-lo a campo para comprovar os resultados. 

“Passamos quase um ano trabalhando em um protótipo sem saber se ele funcionaria ou não”, comenta Leonardo Limongi, pontuando que, pelas características do projeto, o protótipo desenvolvido pela equipe já precisaria ser testado em condições severas.

Após essa fase de desenvolvimento experimental (DE), aprovado o protótipo, passou-se para as fases de construção do primeiro equipamento replicável (o chamado “cabeça de série”, CS) e para a de construção do primeiro lote (ou “lote pioneiro”, LP). Nesta última, ocorre a verificação para saber se o projeto é replicável e escalável.

“É um equipamento que agrega na qualidade do fornecimento e na segurança das operações em subestações de energia do setor elétrico do Brasil, e eu diria até do mundo”, afirma o gerente de projeto da Neoenergia, Rogério Sá.

Mais informações
Professor Leonardo Limongi

leonardo.limongi@ufpe.br

Data da última modificação: 08/08/2024, 15:13