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Smartphones podem auxiliar na análise e no combate aos microplásticos em praias
Imagens capturadas pelos aparelhinhos possibilitam monitoramento rápido e barato desses detritos
Por Gabriela Andrade
Com dezenas de funções já devidamente divulgadas e apreendidas pelos seus usuários, os smartphones foram alçados à condição de importante ferramenta para monitorar e conter a propagação de microplásticos (MPs) descartados nos ecossistemas costeiros e marinhos. O novo status dos aparelhos de telefonia celular é apontado por Thaiane Santos da Silva, mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Oceanografia da UFPE, ao constatar que o método inédito de captura remota de imagens feitas com esses aparelhinhos é uma possível alternativa para identificação dos poluentes em praias. “Monitoramento rápido e barato desses detritos ajudaria na mitigação e prevenção dos impactos, conhecendo as fontes dessa poluição, os padrões de abundância e os locais de maior/menor ocorrência”, analisa.
Segundo Thaiane, autora da dissertação “Detecção de Microplásticos em praias: uma proposta alternativa de monitoramento com imagens”, quanto mais simples forem as amostragens com imagens que revelem a poluição, melhor para gerar dados científicos em maiores escalas, ajudando a otimizar o estudo cada vez mais amplo, frequente e rápido de MPs no meio marinho”. Na pesquisa, orientada e coorientada pelas professoras Monica Ferreira da Costa e Jacqueline Santos Silva Cavalcanti, consta que, atualmente, o monitoramento de MPs presentes nas praias é realizado convencionalmente através do método direto - coleta e análise laboratorial - sendo esse um protocolo que demanda mais recursos, tempo, mão de obra especializada e alto custo.
Foi justamente com o propósito de melhorar o processo de identificação da procedência, classificação e impacto provocado pelos detritos que a oceanógrafa propôs a prospecção de forma indireta, sem coleta, apenas com interpretação de imagens e com caráter semiquantitativo, ou seja, “gerando dados de forma mais simples”. No estudo, foram analisadas amostras de areias colhidas entre 2017 e 2018, de oito praias do Estado de Pernambuco, duas do Estado de Alagoas, e uma do Pará, além de duas praias da Ilha de Malta, no Mar Mediterrâneo - Comino Island e St. George's Bay (Saint Julians), caracterizada como o local mais poluído por plásticos no mundo.
No trabalho, Thaiane constatou que existem lacunas e vantagens na detecção de lixo marinho pelos sistemas de imagem que ela sugeriu, sendo necessário o uso e o desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação para divulgação da contaminação por MPs; pois tal forma de análise é eficiente apenas para macrolixo. “Tal processo poder ser afetado pelo tempo, condições marinhas, altura de captura da foto, nível de luminosidade e pela cor dos microplásticos. Sendo observado que MPs de cor branca e transparente são mais difíceis de detectar em sedimentos de cores brancas”, pondera.
A análise feita através do método convencional (em lupa) contabilizou 398 detritos plásticos encontrados em 42 amostras das 13 praias do Brasil, e 963 nas amostras das praias da Ilha de Malta (sendo 957 de Comino Island e 6 de St.George’s Bay). Entre os itens analisados estavam isopor, pellets, esponja e filamentos. Predominando MPs na cor branca, seguido pelos transparentes e azuis.
A partir da observação indireta (foto), por meio das imagens, os 96 registros foram feitos através de smartphone modelo LG X Power k220 e em Malta, o smartphone utilizado foi Iphone 5S, todas imagens foram registradas na altura dos joelhos e quadril entre 8h e 13h. Foram analisadas 84 imagens das praias do Brasil e doze das praias de Malta. Entre os MPs também foram observados bituca de cigarro, tampas de garrafas, palito de pirulito e hastes flexíveis.
CONCLUSÃO | A partir dos experimentos, o estudo concluiu que a técnica inédita é eficiente para verificar a detecção de MPs embora necessite de aprimoramentos metodológicos futuros, a fim de ajudar numa determinação mais exata da quantidade de MPs. Destacando, também, que o uso de sistemas de câmeras (webcam e drone) e softwares de detecção remota são potenciais ferramentas de monitoramento e identificação, podendo funcionar como aliados na divulgação do alerta sobre a necessidade da preocupação ambiental .
Para a pesquisadora, “uma vez que os celulares são ferramentas comuns e disponíveis à população, eles podem funcionar como um grande aliado no combate à poluição marinha por MPs; possibilitando a participação da sociedade na geração de dados científicos”. A dissertação defende que a participação de voluntários diminuiria os custos com pesquisas científicas, incentivando o crescimento de projetos de ciência cidadã, sem fazer distinção de idade, sexo ou nível educacional. “Podendo, ainda, mobilizar desde crianças a organizações sem fins lucrativos ou pesquisadores profissionais, ou seja, qualquer pessoa que tenha interesse em colaborar de forma pública na geração de dados científicos”, complementa Thaiane.
Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Oceanografia da UFPE
(81) 2126.8227
ppgocoord@ufpe.br | ppgo.
Thaiane Santos da Silva
(81) 2126.7223 - Legece
thaay.santos@gmail.com