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Pesquisa obtém dados que podem prevenir acidentes nas correntes marinhas da praia do Cupe

Levantamento identifica hidrodinâmica das correntes de retorno

Por Inácio Lins

Na dissertação “Dinâmica das correntes de retorno da Praia do Cupe, litoral sul do estado de Pernambuco, defendida no Programa de Pós-Graduação em Oceanografia (PPGO) da UFPEDaniel Brandt Galvão levantou dados úteis para validação de modelos numéricos e prevenção de acidentes provocados pelo fenômeno. Esses movimentos hidrodinâmicos são aqueles que, entre outros efeitos, puxam os banhistas para as águas profundas, e os parâmetros obtidos no estudo explicam o surgimento e mecânica desses fluxos, a partir da análise de forma isolada e em conjunto dos casos observados.

Como método de análise, o autor escolheu o lagrangeano, a partir do lançamento de derivadores diretamente nas correntes de retorno. O método lagrangeano mede um determinado fenômeno seguindo seu fluxo. Com o lançamento de derivadores, é possível medir a velocidade e a direção da corrente de retorno. A opção se deveu, segundo Galvão, ao fato de os ambientes praial e a zona de surf serem um dos mais dinâmicos do planeta, apresentando variações temporais e espaciais que vão desde a escala de segundos e milímetros a séculos e quilômetros. Essa é uma das primeiras pesquisas no Brasil sobre esse fenômeno.

Na dissertação, o pesquisador, que foi orientado pelo professor Pedro de Souza Pereira, infere que o comportamento dos derivadores aponta para existência de padrões de circulação de fuga, deriva longitudinal, circulação em célula, circulação com fuga e retorno à praia. E mais: as maiores alturas de ondas e os menores níveis de maré foram os parâmetros responsáveis por correntes com maior intensidade na zona de surfe bem como o ângulo de incidência das ondas mostrou ter grande influência na direção resultante das correntes; a topografia se revelou com um papel regulador, e a localização das correntes ficando sujeitas às alterações dos canais e bancos. A intensidade média das correntes foi de 0,52 m/s atingindo velocidades de até 2,04 m/s.

Segundo explica o estudo, as correntes de retorno são fortes, estreitas, em sentido ao mar que se originam próximo à costa e se estendem através da zona de surfe e, por serem um componente integral da circulação costeira ao longo de várias praias do mundo, representam um importante mecanismo para o transporte de água e sedimento da costa para o oceano.

“Tais fenômenos têm sido um perigo letal na maioria das praias ao redor do globo, levando banhistas com as mais variadas habilidades de natação para águas com maiores profundidades em apenas alguns segundos”, alerta Daniel.

Consta na dissertação que esses fluxos marinhos são considerados um perigo letal, levando banhistas com as mais variadas habilidades de natação para águas com maiores profundidades em apenas a alguns segundos. Esses riscos, quando não corretamente gerenciados, podem resultar em vítimas fatais, gerando negativos impactos econômicos ao turismo. Nas praias do Reino Unido, as correntes de retorno representam mais de 67% da causa dos afogamentos; nos Estados Unidos, esse número vai para 80%; na Austrália, há expressivos 89%.

A pesquisa também se propôs a compreender a dinâmica das correntes de retorno como fator importante para o gerenciamento costeiro em vários aspectos, uma vez que elas têm um papel fundamental em diversos processos, sobretudo, na circulação tridimensional da zona de surfe, podendo influenciar no transporte e dispersão de poluentes, nutrientes e espécies biológicas em águas costeiras. 

EM CAMPO | Os derivadores lançados na zona de surfe da Praia do Cupe, durante cinco dias, de 4 a 8 de junho de 2016, das 6h às 17h, apresentaram comportamentos de fuga da zona de surfe, derivas longitudinais, circulação em célula, circulação com fuga e retorno à praia. A zona de surfe da Praia do Cupe é um ambiente dinâmico onde diversos padrões de correntes estão atuando, ora de forma simultânea, ora com algum padrão sendo predominante, aponta o estudo. Segundo o autor, o ângulo de incidência das ondas, e com menor peso, a intensidade e direção dos ventos, irão influenciaram no comportamento direcional dos derivadores. “A altura das ondas, variação do nível do mar e a topografia são os principais fatores que atuam modulando a intensidade das correntes da zona de surfe no local estudado. Quanto maior for a altura das ondas, mais intensas serão as correntes”, explica Daniel Galvão. 

Foram encontradas correntes de retorno de alta intensidade na Praia do Cupe, com média de 0,52 m s¯1 e picos médios de até 2,04 m s¯1. Correntes de retorno estiveram presentes em todos os níveis de maré, com as maiores intensidades ocorrendo na baixa-mar. Correntes de retorno apresentam perfis distintos de intensidade entre preamar e baixa-mar. Com a preamar apresentando intensidades maiores no alimentador e a baixa-mar apresentando intensidades maiores no pescoço; As correntes de retorno chegam a ser 2,3 vezes mais fortes dentro da zona de surfe do que fora dela. Embora não seja o objetivo deste trabalho, estas informações podem ser direcionadas e aprofundadas para fins de gerenciamento costeiro, podendo ser aplicadas desde a educação e treinamento sobre o risco de afogamentos até o entendimento do balanço sedimentar e erosão da Praia do Cupe.

MOTIVAÇÃO | Ciente do perigo que representam as correntes de retorno - “são as principais causas de afogamentos nas praias do mundo, uma vez que ela se origina bem próximo à linha de costa e leva em direção ao mar aberto, ou, provoca vórtices, popularmente conhecido como 'caldeirões'” - o autor se propôs a comprovar a existência delas no litoral do Estado de Pernambuco, assim como seus mecanismos, morfologia e variações. 

Segundo Daniel Galvão, o estudo, além de comprovar a existência desses movimentos aquáticos na Praia do Cupe - Porto de Galinhas, observou-se que a sua intensidade é tão forte quanto às correntes de retorno observadas em outras do mundo. “Os resultados permitem que o poder público invista em segurança das praias de uma forma mais assertiva, assim como, fornece informações importantes para a gestão costeira para a evolução das ciências marinhas de uma forma geral”, analisa, e alerta: “A velocidade destas correntes podem ser acima de 2m/s, o que torna a natação contra impossível, nem mesmo o campeão mundial de natação conseguiria vencê-la”.


Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Oceanografia da UFPE (PPGO) 
(81) 2126.8227
ppgocoord@ufpe.br

Daniel Brandt Galvão
brandtgalvao@gmail.com

Data da última modificação: 10/07/2019, 15:26