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Pesquisadores publicam artigos sobre sustentabilidade da Caatinga

As temáticas abordadas se referem à restauração da cobertura florestal e à segurança alimentar

A restauração de paisagens que se encontram degradadas é uma das principais estratégias para atenuar as mudanças climáticas e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Com base nisso, para abordar a temática da sustentabilidade da Caatinga, dois artigos provenientes de projetos de pesquisa, financiados pelo CNPq, apresentam estudos referentes às relações entre floresta e desenvolvimento nesse bioma. Os trabalhos têm a participação do pesquisador Felipe Melo, vinculado ao Departamento de Botânica do Centro de Biociências (CB) e coordenador do Laboratório de Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O Brasil é marcado pela distribuição desigual da terra, em que muitas propriedades estão concentradas nas mãos de poucas pessoas. Na Caatinga esse sistema é reproduzido e a concentração de terras na mão de poucos proprietários traz consequências para o ecossistema. As pesquisas realizadas abordam a temática referente ao desenvolvimento da Caatinga e vão além dos efeitos da intervenção humana sobre esse ecossistema. Sendo assim, os pesquisadores buscaram entender de que forma o estado ambiental da região afetava os índices socioeconômicos e a segurança alimentar.

O artigo Using land inequality to inform restoration strategies for the Brazilian dry forest, publicado na revista Landscape and Urban Planning, traz o seguinte questionamento: Como planejar a restauração da Caatinga em um cenário de concentração de terras? Logo, visa compreender de que forma a concentração de terra na Caatinga pode afetar os investimentos e os estímulos da restauração desse ecossistema. Os autores são Felipe Melo (UFPE), Guilherme Mazzochini (Unicamp), Vinícius Guidotti (IFSP) e Adriana Manhães (UFRJ).

Felipe Melo, um dos autores do artigo, aponta que o planejamento da restauração na Caatinga precisa levar em conta diferentes desafios e realidades fundiárias para se ter compromisso social. “A Caatinga possui muita pobreza em zonas com muita floresta, onde a estratégia mais adequada é associar restauração e segurança alimentar via sistemas agroflorestais produtivos”, informa.

O Código Florestal é uma obrigação legal para a restauração de qualquer ecossistema brasileiro. Nele são explicitadas quais as regras da quantidade mínima de vegetação que precisa ser mantida em todas as propriedades privadas. Com base nisso, o pesquisador Felipe Melo explica como foi o processo de coleta de dados para a pesquisa: “O que a gente fez foi basicamente usar uma análise espacial para aplicar as regras do Código Florestal às propriedades declaradas no CAR da Caatinga, ou seja, do Cadastro Ambiental Rural, que são autodeclarações dos proprietários. É a principal base de dados para entendermos o quanto de floresta existe e o quanto está faltando por lei em cada propriedade”.

Foram mapeados 313.537 hectares de déficit de vegetação, isto é, áreas previamente desmatadas que precisam ser restauradas para adequação legal. Em sua maioria, tratam-se de áreas correspondentes a pequenas propriedades. “Conseguimos publicar um artigo que tem muita informação importante para a gestão pública da restauração na Caatinga, ou seja, para planejar. Até porque a gente identifica no mapa quais são os municípios com mais e menos déficit, e quais deles têm concentração em grandes e pequenas propriedades”, enfatiza. Quanto à recuperação das áreas devastadas, embora pareça difícil, Felipe Melo aponta que, por intermédio de políticas públicas, é possível estimular os pequenos proprietários a recompor florestas de maneira eficiente e aumentar a segurança alimentar. 

Enquanto isso, o outro artigo, intitulado Tradeoffs and synergies between food security and forest cover in Brazilian drylands, publicado na revista Land Degradation & Development, é uma tentativa de entender quais as relações existentes entre a segurança alimentar e a cobertura florestal na Caatinga. O material tem como autores Lucas Alencar (UFPE), Cristina Baldauf (UFERSA), Adriana Manhães (UFRJ) e Felipe Melo (UFPE).

Neste trabalho, os pesquisadores mostram que existem dois tipos de insegurança alimentar na Caatinga, uma “verde” e outra “cinza”. A primeira está relacionada a áreas florestadas e majoritariamente pobres. Já a segunda, está associada a municípios com pouca cobertura florestal, mas muita desigualdade social. “Concluímos que o desmatamento não vai melhorar a segurança alimentar do sertanejo, mas a Caatinga sozinha não é suficiente para garantir acesso a alimentos”, destaca Felipe Melo.

Compreender as relações entre segurança alimentar e florestas é imprescindível na elaboração de estratégias voltadas para a produção de alimentos que sejam favoráveis à biodiversidade. Conforme apontado na pesquisa, os sistemas agroflorestais podem contribuir para a melhoria da disponibilidade, acesso e estabilidade dos sistemas alimentares em uma escala regional. Outro aspecto evidenciado no estudo é o indicativo de que melhorar as condições socioeconômicas, isto é, reduzir a pobreza e a desigualdade, pode elevar o nível de segurança alimentar de forma mais eficaz do que incentivar a produção de alimentos através da expansão de terras agrícolas.

Por fim, o pesquisador relata que restaurar a Caatinga é importante desde que também sejam respeitados os conhecimentos locais. Dessa forma, deve-se consultar as pessoas que moram na localidade e utilizar o conhecimento tradicional para identificar quais são as espécies mais úteis que possibilitem um maior retorno em termos referentes à economia, estilo de vida, alimentação e demais usos que o sertanejo faz da Caatinga.

Date of last modification: 23/08/2023, 12:57