News News

Back

Florestas em regeneração contribuem para a manutenção da diversidade de espécies e biomas nas Américas

Professores da UFPE fazem parte da equipe que escreveu o artigo publicado na revista Science Advances

Com informações da UFSC

Um estudo publicado, no dia 1º deste mês, na revista científica Science Advances mostra que as florestas em processo de regeneração em áreas agrícolas abandonadas não são todas iguais e podem ajudar a restaurar e conservar as distintas regiões ecológicas (biomas) nas Américas. A equipe de ecólogos estabeleceu 1.215 parcelas em florestas em processo de regeneração do oeste do México ao sul do Brasil. Eles encontraram uma grande variação nas espécies de árvores entre regiões, resultado combinado da história evolutiva do continente e das condições ambientais atuais. Os professores Jarcilene Silva de Almeida, Felipe Melo e Marcelo Tabarelli, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Pernambuco, são coautores do artigo. Além disso, parte dos dados integraram a dissertação de mestrado de um dos autores, George Cabral, com coorientação do professor Everardo Sampaio, do Departamento de Energia Nuclear (DEN), atualmente aposentado da UFPE.

Este estudo da rede internacional 2ndFOR descobriu que a composição de espécies de florestas jovens em regeneração é muito variável em todo o continente, formando 14 regiões florísticas distintas. Isso é surpreendente, pois se pensava que essas florestas jovens seriam dominadas pelo mesmo pequeno conjunto de espécies pioneiras generalistas. A autora principal, professora Catarina Jakovac, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que “espécies pioneiras típicas de florestas jovens são geralmente abundantes e dispersas por animais generalistas, então pensamos que a maioria delas estaria presente em várias regiões como as espécies Trema micrantha e Guazuma ulmifolia”. No entanto, o estudo mostrou que tal ampla distribuição não é a regra nessas florestas em regeneração, e que 80% das 2.164 espécies analisadas estavam presentes em apenas uma região florística. Isso significa que diferentes grupos de espécies prosperam em cada região e, portanto, a regeneração de florestas pode ajudar a conservar a diversidade de biomas nas Américas.

Por que há tanta variação na composição de espécies dessas florestas em regeneração? O estudo mostrou que a composição de espécies que vemos hoje é o resultado combinado de uma história biogeográfica antiga e condições ambientais recentes. O segundo autor do estudo, Jorge Meave, da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), explica que “ao longo da história evolutiva, algumas regiões tiveram um intenso intercâmbio de espécies enquanto outras regiões se mantiveram separadas por barreiras geográficas e ecológicas.” Por exemplo, há cerca de 3 milhões de anos, a aproximação das Américas do Norte e do Sul levou a um importante intercâmbio de espécies entre a América Central e a Amazônia, as quais compartilham várias espécies. Por outro lado, as regiões Sudeste e Sul da Mata Atlântica apresentam uma composição de espécies muito distintas da Amazônia. Isso acontece provavelmente porque estas regiões se mantiveram separadas por uma região seca, que hoje é o Cerrado, por cerca de 33 milhões de anos.

VARIAÇÕES CLIMÁTICAS – Além da história evolutiva, as variações nas condições ambientais também são muito importantes. As diferentes regiões florísticas encontradas no estudo foram associadas ao pH do solo, sazonalidade da temperatura e disponibilidade hídrica. Algumas espécies de estágios iniciais de sucessão só prosperam sob condições ambientais específicas, apesar de sua capacidade de dispersão por longas distâncias. Portanto, se as condições ambientais mudarem, a composição das espécies pode mudar também, diminuindo a distinção entre biomas. O uso da terra, por exemplo, modifica o pH do solo e as mudanças climáticas levam a um aumento da temperatura e maior sazonalidade na disponibilidade de água. Lourens Poorter, o autor sênior do estudo, conclui que “as mudanças globais podem, portanto, induzir mudanças na composição de espécies potencialmente levando a uma homogeneização dessas florestas e reduzindo a diversidade de biomas em escala continental”.

Para evitar e mitigar tais consequências, as iniciativas de restauração florestal devem prestar muita atenção à seleção de espécies e devem priorizar as espécies locais em seus esforços de restauração. Jakovac enfatiza que “isso ajudará a restaurar as florestas locais e também a diversidade de espécies em grande escala, além de conservar a variabilidade entre biomas ao longo do continente”.

REDE INTERNACIONAL 2NDFOR – Esta pesquisa é um produto da rede de pesquisa colaborativa 2ndFOR sobre florestas secundárias. Envolve mais de cem pesquisadores de 18 países diferentes. A rede se concentra na ecologia, dinâmica e biodiversidade das florestas secundárias e nos serviços ecossistêmicos que elas fornecem em paisagens tropicais modificadas pelo homem. Esta investigação foi financiada, entre outros, pela European Research Council Advanced Grant Pantrop.

FLORESTAS TROPICAIS SECUNDÁRIAS - Florestas secundárias são florestas que crescem naturalmente após a remoção quase completa da cobertura florestal para uso antropogênico (geralmente para agricultura itinerante, cultivo convencional ou pecuária). Atualmente, mais da metade das florestas tropicais do mundo não são florestas antigas, mas florestas em regeneração natural, das quais grande parte é floresta secundária. Na América Latina tropical, as florestas secundárias cobrem até 28% da área terrestre.

Mais informações
Professora Jarcilene Silva de Almeida

jarcilene.almeida@ufpe.br

Date of last modification: 06/07/2022, 16:02