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Economista, professor e cientista social Eduardo Giannetti analisa o cenário econômico pós-pandemia
Encontro teve como tema “Educação, Sustentabilidade e Desenvolvimento: Perspectivas da Economia Brasileira”
O economista, professor e cientista social Eduardo Giannetti foi o convidado de hoje (26) do evento Agenda UFPE, transmitido ao vivo no canal do YouTube da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mediado pelo reitor Alfredo Gomes, o encontro teve como tema “Educação, Sustentabilidade e Desenvolvimento: Perspectivas da Economia Brasileira” e abordou o contexto posterior à pandemia do coronavírus.
“A ideia é que nós possamos, através da Agenda UFPE, contribuir ao pensamento de temas relevantes e imprescindíveis à sociedade brasileira e à sua relação na geopolítica global”, explicou o reitor. “É uma tentativa necessária de contribuir para a retomada da ação democrática em nosso país”, disse o vice-reitor Moacyr Araújo. “Queremos trazer uma série de contribuições para manter uma interlocução ativa sobre temas da atualidade”, frisou.
Gianetti – que atuou como professor visitante da UFPE em 1992 – destacou três características que se configuram para o planeta quando acabar a pandemia: para ele, o mundo estará mais endividado, tanto no setor público quanto no privado; menos globalizado, pois o processo de globalização deve sofrer refreamento; e mais digitalizado. “A maior digitalização da vida acontece inclusive no campo da educação”, destacou.
No entanto, três grandes incertezas ainda pairam no ar: “Não temos certeza sobre a dinâmica da pandemia, não sabemos como a economia brasileira e mundial vão reagir e não podemos prever o comportamento humano”. Segundo ele, há controvérsia entre os economistas sobre o que vai acontecer quando os estímulos econômicos forem suspensos. O medo em relação ao futuro também pode alterar o comportamento das pessoas.
O economista considera que haverá um aumento brutal do endividamento público no mundo – que pode vir acompanhado da ascensão do nacionalismo e do protecionismo, como no caso dos Estados Unidos. No entanto, ele observa duas especificidades brasileiras em relação ao resto do mundo, que afetam as consequências da pandemia: a questão da desigualdade social e da política disfuncional.
“A pandemia escancara de forma muito dramática a desigualdade estrutural existente na sociedade brasileira”, afirmou. “Temos muitas pessoas sem acesso a coisas básicas da vida moderna, como saneamento, saúde e situação regular de emprego, em uma fragilidade muito grande”, disse Giannetti, que ressaltou ainda a falta de liderança do governo federal, as disputas internas e a ausência de uma estratégia para a saúde.
O lado bom, para o economista, é que o país conta com reservas cambiais muito sólidas e a balança comercial vem apresentando bons resultados, devido à demanda por commodities brasileiras. Já a questão fiscal, em sua análise, requer cuidados. “Quando entramos na pandemia, estávamos recuperando alguma tranquilidade em relação às contas públicas no Brasil, devido a um esforço de contenção de gastos em todos os níveis”, lembrou.
Giannetti avalia que o Brasil vai sair da pandemia com uma dívida bruta de 95% a 100% do Produto Interno Bruto (PIB). “Isso não significa que vamos cair no precipício, mas não será fácil. Precisamos trabalhar para recuperar a ancoragem fiscal no país”, defendeu. No final de sua fala, o professor disse ainda que o trabalho remoto veio em grande medida para ficar, com enormes impactos na questão urbana, na mobilidade e no mercado imobiliário.
CURRÍCULO – Eduardo Giannetti é graduado em Economia (1978) e em Ciências Sociais (1980) pela USP e PhD em Economia pela Universidade de Cambridge, Inglaterra. Lecionou na Universidade de Cambridge (1984-87) e na FEA/USP (1988-2000), tendo sido eleito pelos alunos melhor professor da Faculdade de Economia. Foi professor do Insper e eleito “Economista do Ano em 2004” pela Ordem dos Economistas de São Paulo.