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Dezenas de discentes já foram beneficiados pela Política de Ações Afirmativas nos PPGs da UFPE

Política foi regulamentada por meio da Resolução nº 17/2021, abrangendo todos os 98 programas de pós-graduação (PPGs) stricto sensu da UFPE

Por Petra Pastl

Desde junho de 2021, a partir da Resolução nº 17/2021, todos os 98 programas de pós-graduação (PPGs) stricto sensu da UFPE passaram a adotar a política de ações afirmativas que respeitam as diferenças e a diversidade, reconhecem as desigualdades sociais e raciais e ampliam oportunidades para a inclusão, no seu corpo discente, de pessoas negras (pretas e pardas), quilombolas, ciganas, indígenas, trans (transexuais, transgêneros e travestis) e com deficiência. Para tanto, no mínimo, 30% do total das vagas ofertadas para mestrado e doutorado devem ser destinadas para o público em questão, sendo, pelo menos, uma delas, obrigatoriamente, para pessoas com deficiência.

A política de ações afirmativas da UFPE já beneficiou dezenas de alunos que, hoje, fazem mestrado e doutorado nos PPGs da Universidade. “A implementação da política de ação afirmativa no âmbito dos programas de pós-graduações foi um passo importante que a UFPE deu objetivando equiparar as oportunidades de jovens de todas as etnias, diversidades e deficiências. Estamos felizes com o resultado, esperamos que essa política seja permanente e cresça cada vez mais”, afirma a pró-reitora de Pós-Graduação, Carol Leandro.

Mesmo com a nova política em vigor, isso não quer dizer que os alunos e alunas beneficiários não tenham que participar das seleções. Muito pelo contrário, a política busca equalizar e ampliar as oportunidades de ingresso e permanência nos programas de pós-graduação, por isso existem vagas destinadas exclusivamente a esse público; porém, eles têm que se submeter à mesma prova que os discentes das vagas de ampla concorrência. Ao final do processo seletivo, eles são classificados no resultado final tanto em ampla concorrência quanto na classificação de vagas de ações afirmativas. E quem optou por se autodeclarar preto ou pardo, precisa passar por uma banca de heteroidentificação que analisa critérios fenotípicos após o resultado das notas. Quem opta por se autodeclarar indígena, cigano ou quilombola deve apresentar cópia de uma declaração pessoal de pertencimento emitida pelo povo indígena assinada por liderança local, ou por líderes de grupo e/ou associações de indígenas quando se tratar de candidatos em contexto urbano.

As pessoas com deficiência deverão também apresentar laudo emitido por um médico especialista na área da deficiência alegada pelo candidato comprovando a deficiência, e se precisa de alguma condição adequada para participar da seleção e das aulas.

Depoimentos de mestrandos e doutorandos que ingressaram nos PPGs da UFPE por meio da política de ação afirmativa

Fotos: Divulgação

“Creio que a implementação de uma política de ações afirmativas nos editais das seleções dos programas de pós-graduação é essencial, da mesma forma que é para a graduação. Na verdade, estou surpreso que isso só foi implementado tão recentemente na pós! Pensava já ser uma política antiga. Me considero uma pessoa negra e me entendo cada vez mais dessa forma quanto mais eu estudo sobre questões raciais, por isso optei por utilizar o sistema de cotas na seleção de 2022, que foi minha primeira tentativa. Pela minha pontuação no processo seletivo do programa ter entrado como cotista não fez diferença para mim. Porém, quando cotistas ocupam espaços da ampla concorrência, se abrem espaços para outros cotistas com uma pontuação mais baixa. Ou seja, mesmo que a política não tenha me ajudado diretamente, ela pode ter ajudado outras pessoas. Creio que a política de ações afirmativas deve continuar existindo por um longo tempo, para que os espaços acadêmicos possam ser ocupados por pessoas mais diversas. É inegável que, devido à história da construção da nossa atual sociedade, as oportunidades não são as mesmas para todos os tipos de pessoas; a política de ações afirmativas é uma forma de reparar isso.” Loudovico Soares da Silva, mestrando no PPGDesign e servidor da Diretoria de Comunicação (Dircom)

 

“A implementação de uma política das ações afirmativas é de grande importância para a sociedade. Isso causa um impacto em todos os níveis de educação. Mostra ainda mais que todos podem se capacitar para ocupar os lugares que desejam alcançar e atuar socialmente. Eu, como uma pessoa parda, me orgulho de representar essa parcela da população num programa de pós-graduação. E ainda, ter a oportunidade de inspirar jovens a lutar pelos seus sonhos. Eu já fui aprovado em seleções anteriores de mestrado e doutorado (que acabei não concluindo e reingressei), mas, dessa vez, teve um peso importante saber que minha aprovação não era apenas pessoal e sim de uma representação. Possivelmente teria sido aprovado sem essa política, mas isso não diminui a importância, pois demonstra o cuidado da universidade com as lutas sociais e abre espaço para todos. É importante manter essa política para continuar a interligação com os temas sociais da atualidade e dando espaço e voz para aqueles cujos semelhantes não tiveram oportunidade no passado.” José Ivson Soares da Silva, doutorando em Ciência da Computação no CIn

 

“Eu acompanho os processos seletivos para ingresso no Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) da UFPE desde 2018, quando ainda estava no 4º período da Faculdade de Direito, tendo em vista, que diante do meio acadêmico que eu estava inserida surgiu o sonho em cursar o mestrado para contribuir com a pesquisa e exercer o magistério jurídico. Entretanto, este sonho me parecia bastante difícil, especialmente, em razão da minha condição racial, mesmo eu já tendo conseguido ingressar na graduação, graças às vagas destinadas para negros, em razão da Lei de Cotas. Os negros sempre foram oprimidos e suas presenças na universidade não são, ainda, naturalizadas, principalmente, nos cursos de mestrado e doutorado. Quando acabei a faculdade, me vi diante da possibilidade de concretizar este sonho, tendo em vista, que o processo seletivo para ingresso no PPGD da UFPE estava aberto e destinando, pela primeira vez, duas vagas para cada linha de pesquisa do mestrado para os autodeclarados negros. Preenchi a ficha de autodeclaração como parda para concorrer às vagas destinadas para as ações afirmativas, assumindo assim minha condição racial, e realizei minha inscrição no processo seletivo. Passei em todas as fases do processo seletivo e hoje, com apenas 23 anos, sou discente do PPGD-UFPE na linha de pesquisa Transformações das Relações Jurídicas Privadas, realizando o que tanto almejava em 2018 devido ao ingresso das ações afirmativas pela UFPE nos cursos de pós-graduação. Assim, hoje vislumbro a demonstração do avanço no acesso à educação para todos, ampliando a diversidade e inclusão social na UFPE, e diminuindo a desigualdade social.” Giselly Aparecida Conrado de Oliveira, mestranda do PPGD

 

“A implantação da política de ações afirmativas foi um acerto da UFPE, apesar de já termos avançado na participação de pessoas pretas na ciência/pesquisa, ainda vejo como um campo que tem maioria branca, principalmente no corpo docente dos programas. Entrei no Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical em 2022 no curso de mestrado por meio da ação afirmativa para negros, pardos e indígenas, e mesmo tendo a sensação de que não precisaria utilizar a vaga, fiz questão de tentar por ser meu direito utilizá-la. Foi uma decisão bem difícil, mesmo me identificando como pessoa preta. Cresci ouvindo que não era preta devido aos meus traços finos, por isso, tive medo de não ser considerada apta pela banca. Foi a primeira vez que participei da seleção nesse programa e optei por tentar com a ação afirmativa, mas essa seleção não foi tão concorrida, então acredito que teria passado sem a vaga para ação afirmativa, até pela minha nota final. Considero a área acadêmica/pesquisa um tanto branca, daí a importância da manutenção dessas vagas, tanto para alunos quanto para a UFPE. Essas vagas vão estimular alunos pretos, pardos, indígenas a participarem dos programas de pós-graduação, servindo de exemplo e representatividade para as próximas gerações terem certeza que a cor da nossa pele não pode ser um empecilho para conquistar nossos sonhos e chegarmos a lugares onde, por muito tempo, só pessoas brancas podiam chegar. Quero parabenizar a nova política de ações afirmativas para os PPGs é ótima, mas é necessário haver muita divulgação para que mais alunos possam ficar informados sobre ela.” Thaysa Carolina Gonçalves Silva, mestranda em Medicina Tropical

Date of last modification: 13/12/2022, 19:00