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Pedagogia feita a distância

EDUCAÇÃO Em sete anos, o número de estudantes formados por EaD avançou de 251 mil para 387 mil e preocupa entidades ligadas à área

Na pauta sobre Educação a Distância feita pelo Jornal do Commercio, no dia 16 de agosto, o coordenador da CCGD, professor Fábio Souza, foi um dos entrevistados da matéria onde explicou a facilidade de acesso e popularização do ensino a distância.

Leia a matéria completa:

Da Redação com agências

O perfil de formação do professor está mudando. Seis de cada dez (61%) ingressantes em cursos de licenciaturas e pedagogia estudam por meio de educação a distância (EAD). É o que apontam dados do movimento Todos pela Educação, contabilizados a partir do Censo de Educação Superior 2017 do Inep/MEC. A alta foi de 54,18% em relação a 2010, quando o índice desses alunos em relação ao total de ingressos em cursos de magistério correspondia a 34%. Em 7 anos, o número avançou de 251 mil para 387 mil.

A pernambucana Karla Neves, 22 anos, faz parte dessa estatística. A descoberta de uma gravidez a fez trocar o Recife por São José da Coroa Grande, no Litoral Sul do Estado. Deixou para trás a graduação em pedagogia em uma faculdade particular na capital porque ficou inviável percorrer diariamente o trajeto de 114 km entre as cidades. Um ano depois, quando uma vaga no curso a distância do polo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) de Palmares surgiu, Karla viu a oportunidade de finalizar o que havia começado. “No EAD eu consigo conciliar as coisas de casa, da minha filha e os estudos”, explica a jovem, que acaba de concluir o quarto período.

O professor Fábio Souza, coordenador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) diz que a facilidade explica a popularização da formação a distância. “O EAD ocorre não necessariamente no mesmo local onde o estudante, professor e tutor estão. Por isso as pessoas que trabalham ou estão distantes da instituição têm maior oportunidade de cursar o ensino superior.”

Apesar da praticidade, Karla ainda acha o ensino presencial mais fácil. “EAD é mais difícil porque requer mais foco. Como tenho as coisas de casa e uma criança, quando chega o fim do dia estou muito cansada e não consigo acessar o site para estudar”, conta. Além desse, há outro fator que pesa: “A gente não tem tantas aulas presenciais para poder tirar mais dúvidas com os professores”, afirma. Mesmo assim, defende que as duas modalidades têm o mesmo nível de qualidade.

Nas faculdades particulares, o salto na quantidade de novos alunos no EAD entre 2010 e 2017 foi ainda maior: 162%. A Uninassau foi uma das instituições de ensino superior que registraram esse fenômeno. Lá, o volume de alunos matriculados nessa modalidade já é maior que a do presencial. Enzo Moreira, diretor de EAD do centro universitário, destacou que os resultados dos licenciados em letras a distância também são melhores. Para ele, o EAD representa a “democratização do acesso do ensino superior de qualidade a todos os cantos do Brasil”.

Na análise do coordenador de projetos do Todos pela Educação, Ivan Gontijo, as conclusões do levantamento não são sinalizam para um futuro positivo. “Esse cenário é muito grave para uma educação de qualidade”, disse. “Não é que a formação de professores a distância deva ser proibida. Mas é necessário que ela tenha pelo menos um componente prático muito bem estruturado e efetivo”, sustentou. “Em regiões muito afastadas onde não existe uma faculdade presencial faz sentido um curso EAD, mas são exceções. Quando a gente observa o que está acontecendo, vê que isso virou a regra.”

Gontijo afirmou que a transformação no panorama da Educação é o resultado de três processos a desvalorização da profissão do professor, o movimento do mercado, e a regulação frouxa. “Na rede privada estão sendo fechados cursos de formação de professores presenciais e substituídos por cursos a distância por questão econômica. O curso a distância é mais barato e consegue colocar mais alunos na sala.”

 

 

Desempenho na EAD é pior que o da presencial

Agência O Globo

RIO – Segundo a pesquisa do Todos pela Educação, os professores formados em EAD têm desempenho pior que os formados em cursos presenciais. 75% dos docentes que estudaram a distância tiveram pontuação menor que 50 no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), número dez pontos percentuais maior que os colegas formados nas salas de aula. A probabilidade de um estudante de licenciatura EAD estar entre os 25% dos alunos com notas menores no Enade 2017 é de 30,2%. Quando é aluno do curso presencial, a probabilidade é de 21,6%.

“O professor é o profissional mais importante para o desenvolvimento social e econômico do País, pois é fator determinante para a qualidade da educação”, avalia Priscila Cruz, presidente executiva do Todos pela Educação. “Há, é claro, espaço para a tecnologia apoiar, mas não da forma como estamos fazendo, criando uma verdadeira indústria de cursos online para baratear os custos de formação.”

O Todos Pela Educação ressalta que países vizinhos que conseguem melhores pontuações nos exames internacionais não costumam permitir a formação a distância de professores. No Chile, país da América Latina de melhor desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), a formação inicial docente é exclusivamente presencial, assim como no México. O Peru, país que avança mais rapidamente no Pisa, vetará a abertura de novos cursos a distância a partir de 2020. Segundo a entidade, Austrália, Canadá e EUA permitem a formação de docentes por EAD, mas exigem rigorosos processos de certificação dos formados.

 

 

 

Data da última modificação: 07/01/2020, 15:03

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