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Redes sociais antecipam relação de calouros e veteranos da Universidade

Aproximação começa no dia da pré-matrícula dos aprovados

Por Amanda Myrtes

Mesmo antes do início das aulas, Victor Gabriel, fera 2020 do curso de Nutrição da UFPE, já sabe quais os horários e as disciplinas mais difíceis de seu curso. Esse conhecimento prévio dos desafios que a vida acadêmica reserva é apenas um dos efeitos das novas relações entre calouros e veteranos dentro das universidades. O que hoje parece impensável é que, há alguns anos, os calouros só conheciam os novos colegas e nuances da rotina universitária no primeiro dia de aula. No máximo, sabia-se dos nomes e sobrenomes dos futuros vizinhos de bancas ou, quando muito, tinham cruzado com alguns na fila da matrícula. E só.

Fotos: Divulgação

Calouros, veteranos e coordenadores de Fonoaudiologia no primeiro dia de matrícula

Mas hoje, potencializada pelas redes sociais, que permite uma busca seletiva por informações nos perfis alheios, a estreia na vida acadêmica mais parece um revival – veteranos e novatos já podem iniciar a relação com histórias de vivências mútuas. E, ao “stalkear”, ou seja, perseguir calouros por meio das comunidades on-line, os coletivos de estudantes veteranos matam a curiosidade dos novos integrantes de seu respectivo departamento, além de premeditarem a construção de laços intelectuais e afetivos.

Segundo o professor Luciano Meira, do Departamento de Psicologia da UFPE, esse comportamento por parte dos Diretórios Acadêmicos (DAs), por exemplo, objetiva a organização de uma melhor receptividade para o estudante. “O contato antecipado com calouros por meio das redes sociais se dá muito mais para a montagem de práticas de acolhimento, o que é extremamente saudável”, afirma. “Esse hábito se revela um caminho de recepção muito mais benéfico e útil do que as práticas de trotes e pegadinhas que, muitas vezes, são exercidas de forma agressiva, pois fortalece a teia de relações que amplia as possibilidades de construção de conhecimento e de laços afetivos, como produção da ciência para a sociedade”.

REDE – Na onda de “stalkear” (ou perseguir, numa tradução livre do inglês), a calourada segue um padrão na maioria das turmas da UFPE. Assim que sai a lista de aprovados do Sisu, os veteranos – em geral a última turma que ingressou no curso – acessam a lista de feras e começam a procurá-los nas redes sociais. Assim, o Diretório Acadêmico do curso realiza uma publicação na sua conta no Instagram ou Facebook no intuito de ser um ponto de encontro de todas essas informações coletadas. Por fim, os estudantes marcam os perfis sociais de cada calouro encontrado e é a partir daí que as duas gerações começam a se conhecer e trocar ideias sobre si e, principalmente, sobre o curso. “Depois desse processo, os interessados pegam o número dos celulares e formam um grupo no Whatsapp”, explica Sabrina Pinheiro, estudante e presidente do DA do Departamento de Fonoaudiologia, do (CCS) da UFPE.


Victor, de bolsa azul, conta que foi bem recebido pelos veteranos de Nutrição

O mesmo acontece com o DA Leopoldina Sequeira, de Nutrição. “Assim que saiu a lista procuramos os calouros no Instagram. Muitos deles também começam a seguir o DA e, no dia matrícula, pegamos o número deles e entramos em contato ”, disse Noah Luiz. Segundo ele, que é estudante do 4º período do curso de Nutrição e vice-presidente do DA de Nutrição, “a gente fez um grupo com todos os calouros no Whatsapp, tirando dúvidas e falando sobre o primeiro dia”.

Ainda de acordo com o professor Luciano Meira, as redes sociais têm um papel efetivo na germinação das interações entre os estudantes das universidades. Agindo como uma malha inicial de arquitetura de relações sociais e afetivas, o primeiro contato nas redes escoa, na maioria das vezes, na formação de relacionamentos presenciais. “Para que se fortaleçam e sejam, de fato, perenes e significativas, essas relações precisam ter, quase que necessariamente, uma dimensão presencial, física, orgânica e corpórea, que é o que acaba acontecendo nos corredores e salas de aula da universidade, tornando-se centros comunitários para a montagem dessas relações”, analisa o professor.

Victor Gabriel, da turma 2020.1, assim que aprovado, foi indicado por amigo a seguir o perfil no Instagram do DA de seu curso. O mais novo universitário relata que, no dia da matrícula, foi muito bem recebido pelos veteranos de Nutrição e tirou dúvidas sobre o departamento. “Foram bem receptivos, tanto que, após fazer a matrícula, ficamos lá conversando com todos os veteranos sobre o curso", diz. Logo após esse primeiro contato, Victor e outros calouros foram adicionados em grupo no Whatsapp, formado por feras e veteranos.

Data da última modificação: 03/03/2020, 14:44