Tarefas simples, como sorrir e conversar, tinham virado um desafio na vida do estudante de Letras e professor de inglês do pré-vestibular da Universidade de Pernambuco (Prevupe) Seciliano Henrique Araujo Lima da Silva. Há quase dois anos, ele foi atropelado por um ônibus, passou dias em coma e teve vários dentes quebrados – exames de tomografia e raios-X constataram inclusive fragmentos de dentes espalhados pelo céu da boca. O estudante está em tratamento no projeto de extensão “Traumatismo dentário: da prevenção ao tratamento”, da UFPE. “Ter encontrado o projeto foi crucial para mim”, conta. “Eu tinha vergonha da minha dicção estranha e era muito constrangedor falar com outras pessoas. Posso dizer que foi o melhor tratamento odontológico que tive na minha vida”, afirma.

Ligado ao Departamento de Prótese e Cirurgia Buco Facial, do curso de Odontologia, o projeto desenvolve ações além da sala de aula. Foi criado em 2017 para capacitar os alunos de graduação com aulas teóricas e práticas sobre o assunto, além de disponibilizar à população o serviço de atendimento dessas lesões em bebês, crianças, adolescentes, adultos e idosos. O atendimento é às segundas-feiras, das 8h às 12h e das 13h às 17h.

De acordo com a coordenadora, a professora Elvia Christina Barros de Almeida, o traumatismo dentário é um dos mais sérios problemas de saúde bucal, geralmente ocasionando situação de urgência odontológica e requerendo intervenção imediata do profissional. “É um problema de saúde pública significativo, por causa de sua frequência, impacto na produtividade econômica e qualidade da vida dos pacientes”, explica.

Estudos epidemiológicos têm revelado que os traumatismos dentários atingem de 10% a 35% da população, sendo um problema de saúde pública mundial. “Esse tipo de injúria acomete parcela considerável da população, podendo ocasionar graves perdas funcionais e estéticas de elementos dentários. O tratamento requer uma abordagem multidisciplinar, com envolvimento das especialidades odontológicas a depender de cada caso clínico”, afirma.

Para o odontólogo Dayvson Silva dos Santos, formado em 2018 na UFPE, o projeto foi um divisor de águas durante sua graduação. Ele destacou que ganhou maior autonomia sobre os casos, pois podia dar sua opinião para aprender a ter noção de como resolver as urgências, além de ter acesso a recursos como materiais diferentes e novas tecnologias. “Hoje tenho total segurança nesses casos e recomendo o projeto a todo mundo”, diz.

PREVENÇÃO - Além do atendimento clínico aos pacientes, realizado na clínica C do departamento, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), no Campus Recife, o projeto desenvolve um trabalho de abordagem preventiva e educativa sobre os traumatismos dentários, especialmente em escolas públicas e clubes esportivos, além de capacitação com profissionais de saúde da Prefeitura da Cidade de Recife.

“Este trabalho educativo visa à conscientização das pessoas a esse respeito, visto que as atitudes de urgência, no local do acidente, podem devolver a qualidade de vida ao paciente, pois grandes fraturas ou queda de dente podem ocasionar traumas psicológicos aos pacientes, independentemente da idade”, esclarece a professora. O projeto também desenvolve pesquisas clínicas, utilizando dados sociais e epidemiológicos.

EQUIPE - Os professores da UFPE que participam do projeto são, além da coordenadora, Alice Kelly Barreira (Odontopediatria), Ana Cláudia da Silva Araújo (Periodontia), Cláudio Heliomar Vicente da Silva (Dentística), José Thadeu Pinheiro (Endodontia), Niedje Siqueira de Lima (Ortodontia), Renata Pedrosa Guimarães (Dentística) e Ricardo Eugênio Varela Ayres de Melo (Cirurgia Buco Maxilo Facial).

Há também a participação de parceiros externos à UFPE: a professora Adriana de Jesus Soares, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); o professor Fernando Luiz Tavares Vieira, do Instituto Tavares Vieira; e a empresa RadioFace (PE). No ano passado, a coordenadora apresentou quatro cursos sobre traumatismos dentários em quatro eventos internacionais em Lima, no Peru.

Mais informações
Professora Elvia Christina Barros de Almeida
elvia.christina.barros@gmail.com