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Comemoração do Dia Internacional da Enfermagem se adequa aos dias de pandemia

Profissionais do HC relatam desafios e temores do momento atual

Fotos: Divulgação

Equipe do HC comemora data de forma diferente este ano

Por Renata Reynaldo

Nessa mesma época do ano, em início de maio de anos anteriores, a chefe da Divisão de Enfermagem do Hospital das Clínica da UFPE, Maria da Penha de Sá, já estava “se virando nos 30” para conciliar as obrigações da sua função com a organização das atividades para a Semana da Enfermagem, que sempre ocorre próximo ao dia 12 de maio, quando se comemora o Dia Internacional da Enfermagem. Mas, neste 2020, com sua atenção voltada exclusivamente às ações em prol do atendimento aos pacientes da Covid-19, a profissional se vê envolvida com questões menos amenas da sua categoria: “Nosso foco hoje está totalmente dirigido a enfrentar esse enorme desafio; não temos tempo sequer de planejar, só nos resta fazer o melhor que podemos e agradecer todo o dia por chegar ao fim do dia”.

Mas, nem por isso, Penha, como é conhecida na profissão, perde o ânimo. “Sempre temos muito o que comemorar dentro da categoria da Enfermagem, que hoje, mais do que nunca, está na linha de frente desse grande desafio, somado a questões relacionadas aos EPIs, de trabalho e tantos outros cenários de dificuldade. Entretanto, no nosso HC, a gente consegue contornar essa situação de forma que ainda temos coisas bem positivas”, afirma. Segundo Penha adianta, a categoria vai ser, sim, homenageada. “Vamos comemorar nossa semana, de 12 a 20 de maio, da melhor forma possível; teremos várias lives agendadas, com treinamentos e a abertura oficial da Semana Brasileira de Enfermagem, que vai ocorrer às 19h30, além de um vídeo institucional do HC e outras atividades ao longo da semana”, afirma.

EQUIPE – Ao enumerar o que há de bom para festejar, a profissional, que também é professora do Departamento de Enfermagem da UFPE, se apega, sobretudo, ao lado humano dos profissionais que coordena. “A equipe que hoje está à frente do Setor de Gestão da Qualidade e Vigilância em Saúde tem sido um grande diferencial e exemplo de competência e compromisso”, afirma. E, também, lamenta: “Não podemos deixar de registrar o número expressivo de profissionais afastados pela Covid-19 e alguns, inclusive, em internamento hospitalar; a eles os nossos votos sinceros de franca recuperação.” Segundo a enfermeira, em relação à pandemia, o Hospital das Clínicas da UFPE está atuando na capacidade máxima de UTI, somando 18 leitos que foram pactuados com a Secretaria Estadual de Saúde, além dos leitos clínicos que vêm sendo abertos gradativamente.

Penha coordena equipe com cerca de 1.100 profissionais

A chefe da Divisão de Enfermagem do HC aponta que, tendo à frente uma equipe de intensivistas que coordena o trabalho, toda a enfermagem está mobilizada para cobertura dos plantões; mesmo os menos experientes em UTI se unem aos demais colegas para garantir a assistência. “Temos também enfermeiros e técnicos de enfermagem em hemodiálise que são destacados para atender os pacientes de Covid-19, já que a maioria necessita desse tratamento”, pontua. Dentro da estrutura montada em Pernambuco para enfrentar a pandemia, o HC atua na retaguarda de Nível 3, ou seja, recebe os pacientes em estado grave; com direcionamento para UTI. E Penha não esquece de todos os demais profissionais que continuam seu trabalho nas outras áreas que não param, “como a UTI Geral, o Centro Obstétrico, a Unidade Neonatal, no Bloco Cirúrgico, Enfermarias Clínicas e Cirúrgica, Ambulatórios, Centro de Material e Esterilização, Agência Transfusional, a Diagmagem, enfim, todos que na sua linha de frente trabalham incansavelmente para manter a marca registrada da qualidade da assistência de enfermagem no HC”.

O superintendente do HC, instituição vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Luiz Alberto Mattos, afirma que os profissionais de enfermagem “têm um papel determinante na assistência aos pacientes, por sua capacidade de escuta, de acolhimento e de cuidado permanente, o que comprova o exercício da profissão com amor”. Para Mattos, “outros espaços são preenchidos para até além da assistência, como nos casos de atividades de docência e gestão”. A Enfermagem, segundo o gestor, personifica bem o que já foi citado: “Quando trabalham com amor, vocês se unem a si próprios, e um ao outro, e a Deus”.

Andréia Mendonça destaca que “juntos somos mais fortes”

Mesmo enfrentando o desafio da pandemia, a também enfermeira do Hospital das Clínicas da UFPE Andréia Mendonça, com 14 anos de profissão, aproveita a passagem do dia 12 de maio para parabenizar as colegas e os colegas recém-ingressados na profissão, “afinal a arte do cuidar hoje é perfeitamente traduzida como a Ciência do Cuidar, exercida através de um saber com dimensões técnico-científicas e filosóficas”, explica. Para Andréia, “medos e temores sempre existirão, afinal somos humanos, mas também somos enfermeiros, ávidos em atender às demandas daqueles sob os nossos cuidados com competência e baseados em ciência”. E reforça: “Lembrem-se: juntos somos mais fortes”.

DATA – O Dia Internacional da Enfermagem é celebrado mundialmente desde 1965, porém, oficialmente esta data só foi estabelecida em 1974, a partir da decisão do Conselho Internacional de Enfermeiros. O dia 12 de maio foi escolhido como homenagem ao nascimento de Florence Nightingale, considerada a precursora da enfermagem moderna. Segundo Maria da Penha de Sá, este é o ano do bicentenário de seu nascimento, cujos ensinamentos continuam essenciais. A lavagem das mãos preconizada por ela, por exemplo, hoje é um dos grandes aliados no combate à pandemia. “Portanto, viva os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem; sigamos fortes e comprometidos; nós somos a força do Sistema Único de Saúde”, conclama Penha. 

 

“Nós nunca estivemos tão unidos”

Com dez anos de profissão, a enfermeira Patrícia Magalhães atua há três anos na UTI do HC e diz que nunca imaginou passar pelo que está passando. Dessa vivência, a profissional tira fortes ensinamentos que a motivam a comemorar o dia máximo da sua categoria.

Patrícia Magalhães: “Na UTI nós somos como uma família”

O que mudou na sua rotina de trabalho com a pandemia do novo coronavírus?
Mudou tudo. Na UTI nós somos como uma família, mas agora não comemoramos mais os aniversários de ninguém da equipe, não sentamos mais juntos nas horas das refeições para conversar, sentimos muita dor e sede por conta dos EPIs e temos que aguardar o momento possível para tomar água.

Considerando a categoria profissional, você vê algum aspecto positivo nessa mudança?
Sim. Eu vejo o profissional de enfermagem muito mais engajado em estudar, se aprimorar, melhorar os processos de trabalho e assistenciais, e também garantir a segurança nos procedimento que rotineiramente fazemos (...) Sempre houve bactérias, vírus, mas nunca nos preocupamos tanto com a segurança do profissional como hoje.

E como fica a relação da equipe nesse momento de tantas tensões e desafios?
Embora com o distanciamento social, nós nunca estivemos tão unidos; a proteção do outro é uma preocupação de todos; a minha segurança não é mais só minha, é também a do outro. A gente compartilha dos mesmo medos e inseguranças.

Você acha que a sociedade está reconhecendo devidamente o trabalho da Enfermagem no front da pandemia?
Olha, sinceramente, eu não nos vejo como heróis quando estamos no hospital; somos profissionais de saúde desempenhando um trabalho que é a nossa escolha, nossa função. Agora, acho que a gente é herói em casa; porque não é fácil você não poder beijar seu filho; não dormir mais com seu marido. Estamos encarando missões impossíveis e as tornando possíveis, por amor.

Com essa carga de sacrifício você vê motivos para comemorar o Dia Internacional da Enfermagem?
Claro! E o maior motivo é força que a gente tem para continuar a trabalhar e manter a família segura; ficamos 24 horas na beira do leito do paciente, lidamos com sentimentos do paciente e da família. A gente se apega, supera tudo, cansaço, fome, sede, dor de cabeça latejante, pois aquele face shield (escudo de face) machuca muito. Só quem usa é que sabe.

Que boa notícia você gostaria de receber nesta data?
Que descobriram a vacina da Covid-19. Mas como eu sei que está longe de isso ocorrer nesse momento, então, gostaria de receber uma mensagem que nos motive a continuar nessa frente, que não está sendo fácil. Gostaria de contar com compreensão quanto a dor emocional que estamos sentindo. E quanto ao processo de trabalho, que não nos faltem EPIs. Não queremos muito; apenas nos sentirmos seguras para trabalhar.

Data da última modificação: 13/05/2020, 16:59