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Pesquisas sobre impacto ambiental feitas na UFPE usam drones para coletar amostras de contaminantes

Estudos foram feitos sob a coordenação do professor Vagner Bezerra, do Departamento de Química Fundamental

Por Renata do Amaral

Dois estudos realizados na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) utilizaram veículos aéreos não tripulados (UAV, na sigla em inglês), mais conhecidos como drones, para possibilitar a coleta de dados ambientais evitando riscos aos pesquisadores: um sobre a contaminação com óleo de origem desconhecida que atingiu o litoral brasileiro em 2019 e outro sobre o impacto ambiental da atividade do agronegócio em águas doces. Os projetos tiveram fomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) e Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac).

Os estudos foram feitos sob a coordenação do professor Vagner Bezerra, do Departamento de Química Fundamental (DQF). “O UAV com adaptação permite obtenção de informações sobre poluição de modo muito mais rápido que os modos convencionais de coleta e obtenção de dados ambientais atualmente empregados, sem riscos aos analistas, pois não há contato deles com água poluídas. Não há impactos ambientais, pois o profissional não adentra no bioma em estudo. Além disso, permite saber em tempo real a presença de contaminantes e pode informar alterações de potabilidade, em tempo real, para uma agência de controle e fiscalização ambiental, sendo assim uma ferramenta de bastante valia para o meio ambiente e a saúde pública”, explica o professor.

Os resultados foram publicados, respectivamente, nos artigos “An adapted unmanned aerial vehicle for environmental water sampling” (em português, “Um veículo aéreo não tripulado adaptado para amostragem de água ambiental”), na revista Química Nova, da Sociedade Brasileira de Química, e “In situ voltammetric analysis of 2,4-dichlorophenoxyacetic acid in environmental water using a boron doped diamond electrode and an adapted unmanned air vehicle sampling platform” (em português, “Análise voltamétrica in situ de ácido 2,4-diclorofenoxiacético em água ambiental usando um eletrodo de diamante dopado com boro e uma plataforma de amostragem de veículo aéreo não tripulado adaptada”), no periódico Analytical Methods, da The Royal Society of Chemistry. 

ÓLEO - A pesquisa sobre contaminação com óleo de origem desconhecida que atingiu o litoral brasileiro, sobretudo o de Pernambuco, em 2019, usou um drone adaptado para aquisição de amostras de águas de mar, estuário e manguezal na região próxima ao Porto de Suape, no Cabo de Santo Agostinho (PE). “Conseguimos com um veículo aéreo não tripulado adaptado fazer amostragem de águas e acessar locais de difícil acesso, sem impactar a área já fragilizada. Com isso, não mudamos as características do solo do mangue e fizemos de modo mais rápido, sem riscos aos profissionais e sem contaminação da água amostrada”, afirma Vagner Bezerra.

Na análise, foram identificados poluentes como benzeno, tolueno, etilbenzeno e o,m,p-xilenos, conhecidos como BTEX. Para isso, a cromatografia a gás com detecção por massas (GC-MS) foi utilizada, além de medidas de pH, condutividade e temperatura. Os níveis encontrados destes poluentes foram inferiores a 5 microgramas por litro nessas águas, classificadas como salinas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o que não impede seu uso de modo recreativo para atividades de pesca e banho. Contudo, o professor ressalta que os níveis encontrados podem ser um alerta para a saúde dos microbiomas, pois as espécies que neles vivem podem acumular poluentes e sofrer danos.

“Foi a primeira vez na literatura científica que um UAV adaptado com um sistema automatizado de amostragem foi utilizado para esta finalidade de identificação de poluentes em água por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas, que fornece provas inequívocas destes e de outros poluentes, abrindo a possibilidade de avaliação de inúmeros compostos tóxicos ao meio ambiente”, destaca. Realizado no Laboratório de Automação em Química Analítica Aplicada (LIA3) do DQF, o trabalho contou com a colaboração do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) e do professor Jones Albuquerque, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e recebeu votos de aplausos na Câmara Municipal do Recife no final de 2019.

AGROTÓXICOS - O outro trabalho investigou o impacto ambiental da atividade do agronegócio em águas doces, destinadas ao consumo humano. “Sabemos que toneladas de formulações de agrotóxicos são utilizadas no Brasil, um dos maiores consumidores de agrotóxicos no mundo. Para isso, um drone adaptado foi aplicado para fazer a amostragem de águas superficiais de um açude localizado no bairro de Apipucos, no Recife, para fins de demonstração de sua aplicabilidade, e foram coletadas diferentes amostras representativas do corpo d'água”, explica Vagner Bezerra.

Também desenvolvido no laboratório LIA3, no DQF, o trabalho é resultado da dissertação de mestrado do aluno José Claudiano Dantas Neto, do Programa de Pós-Graduação em Química da UFPE, orientado pelo professor Vagner Bezerra. Contou também com a cooperação dos professores Severino Carlos, da UFRPE, e Willian Toito, da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Ainda em campo, foi realizada a detecção eletroquímica de um herbicida modelo, 2,4-D (ácido diclorofenóxiacético), um dos mais usados na monocultura de cana-de-açúcar no Brasil, em especial em Pernambuco. A ferramenta de monitoramento permite obter resultados em tempo real. Os resultados foram validados empregando um método padrão, como a cromatografia a gás com detecção por massas (GC-MS), e não foram encontradas diferenças significativas a um nível de confiança de 95% para os resultados obtidos empregando ambos os métodos, o que permite concluir a precisão e exatidão da análise feita em campo.

A experiência provou que é possível medir o impacto ambiental causado por atividades irregulares, como o uso excessivo de agrotóxicos, pois pode monitorar a concentração destes poluentes e de outros. Segundo o Conama, o valor permitido para águas doces deste herbicida é de 30 microgramas por litro, valor que não foi encontrado, o que acusaria contaminação do lago. “O método se mostrou preciso e exato quanto à identificação, sendo assim uma ferramenta ambiental de monitoramento bastante rápida, eficiente e de baixo custo para controle de poluentes em águas ambientais, além de avaliar o impacto de atividades do agronegócio que façam uso excessivo de defensivos agrícolas ou formulações proibidas”, esclarece o professor, que frisa ainda o fato de a tecnologia ser alinhada com desenvolvimento sustentável, modernas práticas de monitoramento ambiental, inovação, tecnologia e questões de saúde pública e meio ambiente.

Data da última modificação: 11/05/2022, 14:50