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Artigo discute vazamento de óleo nos oceanos e suas consequências

Trabalho propõe nove medidas que refletem a necessidade de expansão nas investigações voltadas a acidentes com vazamento de óleo

Por Catarina Albertim

Os desastres ambientais envolvendo o derramamento de óleo nos mares e oceanos possuem consequências gigantescas ainda pouco compreendidas. A este fator também se soma a dificuldade em estabelecer um planejamento preventivo, essencial para evitar os acidentes, e um projeto de contenção, focado em mitigar os seus efeitos. Pensando em solucionar tal problemática, um artigo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) agrupa dados a respeito de métodos para prevenção, identificação e restauração das áreas contaminadas, tais como barreiras de segurança para impedir os vazamentos, identificação por meio de sensores nos estágios iniciais do vazamento ou modelos de aprendizagem de máquina para detecção em imagens de satélites nos estágios mais avançados e uso de dispersantes nas áreas afetadas. 

Intitulado “Características, detecção e métodos de recuperação de derramamentos de óleo: Uma visão sistemática baseada em risco”, o trabalho faz parte da tese de doutorado em Engenharia de Produção de Ana Cláudia Souza Vidal de Negreiros, finalizada em 2022, na UFPE, sob orientação da professora e membro da Comissão Gestora do Programa de Formação de Recursos Humanos/PRH 38.1 Isis Didier Lins, que também é coautora do artigo. O trabalho conjunto foi publicado, em dezembro de 2022, originalmente em inglês, na revista Journal of Loss Prevention in the Process Industries (Qualis A2), v. 80. E também contou com a colaboração dos professores Caio Bezerra Souto Maior (Núcleo de Tecnologia, Centro Acadêmico do Agreste – CAA) e Márcio das Chagas Moura (Departamento de Engenharia de Produção – Campus Recife, membro da Comissão Gestora e coordenador do PRH 38.1).

No trabalho é proposta uma agenda com nove medidas que refletem a necessidade de expansão nas investigações voltadas para acidentes com o vazamento de óleo. Entre as sugestões, a tecnologia aparece como uma importante aliada para “atuar na detecção rápida e mitigação de danos com os métodos de recuperação", afirma Ana Cláudia. “É importante evitar esse tipo de acidente ambiental e quando não houver a possibilidade de evitar, que pelo menos haja uma detecção rápida, como propomos no trabalho”, reforça.
 
As sugestões de estudos envolvem acompanhamento contínuo das áreas afetadas para dimensionar a duração do efeito dos acidentes. Também são indicadas pesquisas capazes de mensurar, em estimativa, os custos sociais, ambientais e econômicos envolvendo pequenos vazamentos, bem como estudos usando diferentes fontes de imagens, por exemplo, geradas por satélites e UAVs (Veículos Aéreos não Tripulados). 

Ainda são indicados na agenda de pesquisa os seguintes temas: saúde dos indivíduos que atuam em áreas afetadas pelo vazamento de óleo (com foco em cuidados preventivos); estudos de caso indicando a eficiência ou não de barreiras de segurança; pesquisas que contemplem o desempenho das gestões de risco em casos de acidente; estudos voltados para melhorar a adaptabilidade de sistemas técnicos e sociais quando houver episódios de derramamento de óleo; análises mais aprofundadas baseadas em imagens para comparar os métodos de detecção dos vazamentos e estudos sobre métodos de detecção considerando as características de expansão do óleo em áreas marítimas antes e após o vazamento. 

“É interessante que as pessoas entendam que um vazamento de óleo que ocorre em qualquer lugar do mundo, principalmente se for de grande escala, vai ter impactos negativos para todos porque vivemos em um ecossistema que não é isolado”, alerta Ana Cláudia. Ou seja, é necessário pensar cada vez mais na “questão do gerenciamento do risco relacionado ao vazamento como também a comunicação do risco”, destaca a professora Isis Didier, pois a problemática possui uma repercussão social de grande impacto e que, por vezes, enfrenta barreiras na dimensão do problema e, principalmente, nas ações voltadas para conter os danos ocasionados pelo derramamento. 

O artigo dos pesquisadores da UFPE trata de diversas especificações do óleo para identificar maneiras satisfatórias de restabelecer a área contaminada pelos vazamentos. Para tal, valeu-se da metodologia de revisão sistemática de literatura. “O primeiro critério era de trabalhos de detecção de vazamento de óleo mais citados e trabalhos de detecção de vazamento de óleo mais recentes. E a segunda parte foi a busca de informações para agregar à pesquisa”, explica Ana Cláudia.

Diante de acidentes recentes, como o que atingiu todo o litoral do Nordeste brasileiro, em 2019, as preocupações da sociedade são despertadas, e tais episódios revelam múltiplas consequências, com impactos diretos ou indiretos em áreas que vão desde o meio ambiente até a saúde e economia. A dinâmica das populações das áreas afetadas é completamente alterada, assim como as atividades turísticas. Em casos de alto impacto, como o citado acima, com proporções de 3 mil km de extensão, os danos levam ainda mais tempo para serem completamente revertidos. O atraso na comunicação a respeito do vazamento também é um fator que influencia as chances de recuperação das áreas atingidas.

TESE – O artigo derivou da tese de doutorado “A Novel Automated Oil Spill Detection Approach Based on the q-Exponential Distribution and Machine Learning Models”, que propôs um método para detectar o vazamento do óleo a partir de imagens em mares e oceanos, utilizando a visão computacional, aprendizado profundo e aprendizado de máquina. A ampliação dos estudos voltados à compreensão dos acidentes de derramamento de óleo parte ainda da percepção de que as pesquisas dessa área são concentradas em casos ou análises mais específicas. Ou seja, foi percebida uma carência em trabalhos que reúnam informações mais amplas sobre os acidentes e que tratem “desde o que vem a ser o óleo até mesmo as formas de detectar quando ocorre esse vazamento e também métodos para recuperação e restauração das áreas contaminadas”, ressalta Ana Cláudia Negreiros.

Mais informações
Ana Cláudia Souza Vidal de Negreiros

ana.claudianegreiros@hotmail.com