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Elevado senso de coerência pode reduzir malefícios da sonolência diurna

Foram analisados os hábitos de 60 pacientes da clínica-escola do Núcleo de Atenção ao Idoso do curso de Odontologia da UFPE com idade igual ou superior aos 60 anos

Por Maik Santos

A grande maioria dos humanos desenvolve suas atividades durante o dia e, justamente por sermos diurnos, é que, quando ocorrem episódios de sonolência durante o dia,  geralmente isto repercute na baixa produtividade, resulta na perda do foco ou gera a queda da qualidade do que é produzido. Porém, estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Odontologia (PPGOdonto) da UFPE, de autoria de Paulo Cardoso Lins Filho, identificou que idosos que apresentam aquela vontade constante de cochilar durante o dia podem, ainda assim, apresentar uma boa qualidade de vida, e a razão disso está associada à Teoria Salutogênica. “O alto grau de senso de coerência atua como imunizante aos danos causados pelo distúrbio da sonolência diurna”, explica o autor.

Com orientação e coorientação dos professores Arnaldo de França Caldas Jr. e Hilcia Mezzalira, o pesquisador analisou os hábitos de 60 pacientes da clínica-escola do Núcleo de Atenção ao Idoso do curso de Odontologia da UFPE com idade igual ou superior aos 60 anos. Após entrevista, quando os participantes passaram pela aplicação de questionários e testes de sonolência, senso de coerência e qualidade de vida, o estudo, denominado “Sonolência diurna, qualidade de vida relacionada ao sono e senso de coerência em idosos”, identificou alta associação entre sonolência diurna e baixa qualidade de vida, mas, entretanto, também apontou que idosos, embora com sonolência diurna, desfrutavam de qualidade de vida, pois eram dotados do que a psicologia chama de forte senso de coerência. 

Ou seja, 80% dos idosos com sonolência diurna também apresentaram sintomas que denotam pouca satisfação e desempenho ruim nas atividades essenciais à vida. Já o outro indicador aponta que, dos pacientes estudados, 91% dos que apresentam um forte senso de coerência também possuíam alta qualidade de vida. “Esses resultados preliminares eram até previsíveis; contudo, após um olhar mais aprofundado, identificamos que nesse segundo grupo também havia indivíduos que apresentaram episódios de sonolência diurna”, atesta Paulo Cardoso.

Para aferir o senso de coerência, é utilizado um questionário cujo resultado indicará a capacidade do indivíduo de ressignificar os acontecimentos de sua vida, dando um propósito e compreendendo o que acontece à sua volta. Ou, explicando melhor: “O senso de coerência é definido como algo que, na psicologia, é chamado de cope, atrelado ao conceito de resiliência, mecanismo que o indivíduo utiliza para poder driblar os estressores, os mecanismos de adoecimento, para se manter saudável”, afirma Paulo. Daí a conclusão de que “ter um senso de coerência elevado nos auxilia a driblar alguns mecanismos estressores que podem resultar em mal-estar e doenças”.

ESCALA | Projetado pelo sociólogo americano Aaron Antonovsky, o questionário de senso de coerência conta com 29 itens, cujas respostas devem ser posicionadas dentro de uma escala de 1 a 7, em que a pontuação total pode chegar a 203 pontos. Essa escala foi projetada para avaliar os sensos de compreensibilidade, maneabilidade e significância dos entrevistados. Como foi criado por um americano, Paulo Cardoso traduziu e adaptou o questionário para nosso idioma e a nossa realidade. 

Segundo a dissertação, “a Teoria Salutogênica, muito difundida nos estudos sobre saúde na Europa, trabalha na busca das razões que levam alguém a estar saudável e esse conceito representou uma mudança de paradigma nas ciências da saúde, que, até então, buscavam uma explicação apenas para a razão de alguém estar doente (patogênese)”. 

Como um dos resultados aplicáveis da pesquisa, Paulo Cardoso deixa a sugestão de que núcleos de acolhimento e atenção ao idoso, como o da UFPE, ofereçam oficinas que estimulem o senso de coerência. “Pois, apesar do senso de coerência ser algo inerente ao indivíduo, já que é a forma que ele mesmo significa situações de sua vida e seu redor, ele pode (e deve) ser exercitado, promovendo uma manutenção da qualidade de vida, bem-estar e evitar mecanismos estressores”, ressalta. 

Esse estudo insere-se em uma pesquisa multicêntrica, ou seja, que envolve diversas universidades do país com a utilização de um aparelho intraoral, próprio para ajudar idosos a não terem episódios de apnéia obstrutiva do sono. O professor Arnaldo de França de Caldas Jr. ficou responsável pela parte do estudo desenvolvido na UFPE. Com isso, o trabalho de Paulo serve como complemento da pesquisa principal, indicando como a Teoria Salutogênica e o senso de coerência poderiam auxiliar os idosos na percepção da melhora deste problema.

Mais informações

Programa de Pós-Graduação em Odontologia (PPGOdonto) da UFPE
(81) 2126.8817
ppgodonto2@gmail.com

Paulo Cardoso Lins Filho
paulocardoso09@hotmail.com

Date of last modification: 29/04/2021, 19:04